NOVO “BARRABÁS” RETOMA A POLÊMICA JUDAICA DE MEL GIBSON.

Por Celso Sabadin.
 
A partir do livro “Barabbas, A Dream of the World’s Tragedy “, escrito pela inglesa Marie Corelli em 1893, o diretor Evgeniy Emelin conta uma outra versão para a conhecida história de Barrabás, o criminoso que o povo clamou a Pilatos que fosse solto no lugar de Jesus, segundo a mitologia cristã.
 
Na produção russa “Barrabás” (que estranhamente chega aos cinemas brasileiros em época de Natal, apesar de ser essencialmente um filme sobre a Páscoa), o assassino solto por Pilatos passa por um doloroso processo de arrependimento e redenção. De acordo com o filme, ele era namorado de Judith (irmã de Judas, o também famoso traidor de Jesus), que por sua vez estava mancomunada com o líder religioso Caifás para armar uma conspiração que culminasse na crucificação do autoproclamado Rei dos Judeus. Na trama, não apenas Barrabás, mas como o próprio Judas teriam servido de massa de manobra para Judith e Caifás, entrando assim de gaiatos neste imbróglio político. No filme homônimo de 1961, Caifás sequer é mencionado.
 
Ao construir Caifás como o grande vilão da história, o diretor Emelin mexe no mesmo vespeiro que já havia sido atiçado por Mel Gibson em seu “A Paixão de Cristo”, de 2004. Ou seja, ao responsabilizar abertamente e quase que exclusivamente o líder judeu Caifás pela morte de Cristo, Gibson na ocasião comprou uma gigantesca briga com a comunidade judaica, posto que o Concílio Vaticano II, realizado em 1961, já havia decidido que Caifás era inocente de tal acusação, o que inclusive provocou uma revisão de textos históricos (sim, a Bíblia também muda no decorrer dos tempos, de acordo com revisões históricas e, claro, motivações políticas e econômicas).
É evidente que este lançamento russo não tem o mesmo poder midiático de um filme hollywoodiano de Mel Gibson, o que não provocará novas reações da comunidade judaica, mas a discussão é a mesma.
 
Deixando a política religiosa de lado, cinematograficamente “Barrabás” sofre de um problema recorrente à maioria dos filmes bíblicos e/ou épicos, qual seja, uma espécie de “engessamento” de seus personagens. Todos parecem extremamente solenes, recitando suas falas como se fossem as mais importantes da Humanidade, caminhando, olhando e se comunicando ritualisticamente. A trilha sonora insistentemente imponente e as movimentações de câmera sempre buscando o épico e o grandioso contribuem ainda mais para este registro quase mitológico que acaba por afastar as possibilidades de empatia da trama com o público.
 
Há, porém, bons momentos aqui e ali que podem ser pinçados, quase todos nas falas do personagem Melchior. Entre eles, “Torne-se um agiota, fique rico e ninguém te perguntará se algum dia você foi um ladrão ou um assassino” e “É prazer dos pecadores matar alguém sem pecados”. Grande Melchior!