“ZAZIE NO METRÔ”, DELICIOSAMENTE SUBVERSIVO.

Por Celso Sabadin.

A ideia de que os filmes da Nouvelle Vague eram cerebrais,  herméticos e distanciados do gosto popular é inexoravelmente derrubada com “Zazie no Metrô”, terceiro longa dirigido pelo  então jovem (28 anos) Louis Malle.

A partir do livro de Raymond Queneau, Malle desenvolve esta irresistível comédia amalucada sobre a garotinha Zazie (a ótima Catherine Demongeot, que não seguiria carreira no cinema) que vai a Paris passar alguns dias com seu tio Gabriel (Phillipe Noiret, o eterno projecionista Alfredo de “Cinema Paradiso”).

O sonho de Zazie – conhecer o metrô parisiense – é logo frustrado por uma greve do setor, o que obriga seu tio a se desdobrar pelas ruas da cidade para tentar acompanhar o pique da irrequieta, curiosa e desbocada garotinha. Que, ainda por cima, quer saber se titio é ou não é homossexual.

O filme tem o ritmo de sua protagonista. A Paris dos olhos dela pulula coloridíssima, intensa, quase histérica, com vigor e frescor contagiantes. Já prenunciando a fervura do caldo cultural que a era pop desencadearia nos anos seguintes, Malle aglutina despudoradamente as linguagens das histórias em quadrinhos, do cinema mudo e dos livros infantis para criar uma experiência cinematográfica das mais gratificantes da Nouvelle Vague.

Em determinada cena, Gabriel, exausto (e provavelmente colaboracionista), chega a confidenciar para um amigo que “a época da Guerra não era tão ruim assim”.

Em referência à própria quebra das estruturas narrativas convencionais que “Zazie no Metrô” propõe, há um momento em que seus protagonistas desobedecem um guarda de trânsito sob a alegação de que “isso é Nouvelle Vague”. Afinal, estamos em1960, época de desrespeitar o guarda.

Nostalgicamente divertido.