“EMA”, A DANÇA E A AGRESSÃO COMO EXORCISMOS DA DOR.

Por Celso Sabadin.

Difícil imaginar uma situação mais dolorosa que adotar um filho para depois devolvê-lo. Pois é esta a realidade do casal formado

pela professora de dança Ema (Mariana Di Girolamo) e o marido coreógrafo Gastón (Gael García Bernal), que se percebem sem condições psicológicas de atuar como pais adotivos do pequeno Polo (Cristián Suárez). E, por outro lado, percebem-se igualmente tomados pela culpa de recusarem o menino. Diante da ausência de saídas viáveis para combater a dor, Ema e Gastón partem para o ataque mútuo, para a autodestruição do casal como expiação de suas próprias impossibilidades.

Com roteiro de Guillermo Calderón, Alejandro Moreno e do próprio diretor Pablo Larraín  (o mesmo de “Jackie” e “No”), “Ema” é uma dolorosa “DR” emoldurada por cenas de dança e música Reggaeton que lhe conferem uma embalagem de um colorido escapismo contrastante – estética e dramaturgicamente – com o peso de seu tema principal.

Produzido pelo Chile e selecionado para a mostra competitiva do Festival de Veneza, “Ema” já está em cartaz nos cinemas brasileiros.