A SENSIBILIDADE DE “NÓS DUAS” CONTRA A IGNORÂNCIA.

Por Celso Sabadin.

Se, por incrível que pareça, a homossexualidade é tema que até os dias de hoje gera preconceitos entre os ignorantes e intolerantes, o que não dizer então da homossexualidade entre mulheres da terceira idade? Este é o tema básico de “Nós Duas”, belíssimo drama que narra a história de Nina (Barbara Sukowa) e Madeleine (Martine Chevallier).

Apenas o nome da alemã Barbara Sukowa já seria suficiente para levar o cinéfilo para ver “Nós Duas”. Atualmente aos 71 anos, ela foi uma das atrizes favoritas de Fassbinder, com quem trabalhou em “Berlim Alexanderplatz” e “Lola”. Sukowa também viveu os papéis títulos em “Hanna Arendt” e “Rosa Luxemburgo”, ambos dirigidos por Margarethe von Trotta. Já a veterana Martine Chevallier é menos conhecida do público brasileiro, em função de sua carreira mais focada no teatro e na televisão de seu país, a França.

Ambas dão um show de intepretação em ”Nós Duas”, vivendo os papeis destas duas idosas, aposentadas, que durante décadas escondem seu relacionamento amoroso, fingindo ser apenas boas amigas vizinhas. Porém, quando algo inesperado acontece (e algo inesperado sempre acontece, caso contrário não tem filme), o segredo vêm à tona, para a indignação ignorante de alguns familiares que – como num passe de algum tipo de magia doentia – começam a ver com outros olhos as pessoas quem amaram e amam a vida inteira. São inexplicáveis os tortos caminhos do preconceito.

“Nós Duas” é o primeiro longa ficcional de Filippo Meneghetti,  também autor do roteiro em parceria com a também estreante Malysone Bovorasmy, e colaboração de Florence Vignon (roteirista de “A Vida de uma Mulher” e “Mademoiselle Chambon”).

Terno e sensível, o filme é uma coprodução franco-alemã, já está em cartaz nos cinemas, e é o escolhido da França para representar o país no Oscar.