“A VIAGEM DE PEDRO”, O HERÓI COBRADO.
Por Celso Sabadin.
Logo no início do filme, um letreiro já avisa: há pouquíssimas referências históricas sobre o que poderia ter acontecido na viagem que D.Pedro I empreende do Brasil até Portugal, em 1831, momento em que foge de ser apedrejado pelos brasileiros, nove anos após proclamar a independência o país.
E é assim que o filme “A Viagem de Pedro” deve ser visto: como uma alegoria poética, o registro simbólico de uma trajetória emotiva na qual o homem se descola da figura do imperador e emerge solitário em meio a um oceano de dúvidas, culpas, lembranças e remorsos.
No fundo, são várias as viagens de Pedro, um homem assombrado pelos corpos escravizados que não ousou libertar quando podia, e pelos amores passados cuja posição política não permitiu que assumisse. Enquanto remói o passado, seu futuro tampouco parece promissor, pois do outro lado do Atlântico o aguarda uma guerra contra o próprio irmão.
Criativas e eficientes soluções cenográficas colocam o espectador no cerne desta instigante trajetória amarrada pelo sólido roteiro e pela sensível direção, ambos de Laís Bodanzky (a mesma de “Bicho de Sete Cabeças” e “Como Nossos Pais”).
Cauã Reymond entrega um D. Pedro I (personagem já interpretado anteriormente por Tarcísio Meira e Marcos Palmeira) humano e vulnerável e, por isso mesmo, muito mais suscetível à empata das plateias.
Ao seu lado, a artista plástica Rita Wainer estreia como atriz no papel de Domitila, Luise Heyer (“Dark”) interpreta Leopoldina, Francis Magee (“Game Of Thrones”) vive o Comandante Talbot, e Welket Bunguê o Contra-almirante Lars. No elenco português estão Victória Guerra interpretando Amélia, Luísa Cruz no papel de Carlota Joaquina, João Lagarto vivendo Dom João VI, Isac Graça (“Catas da Guerra”) na pele de Miguel e Isabél Zuaa (“As Boas Maneiras”) interpretando Dira. Celso Frateschi (“3%”), Gustavo Machado (“A Suspeita”), Luisa Gattai, Dirce Thomas, Marcial Mancome, Sergio Laurentino (“Tungstênio”) e Denangowe Calvin completam o time.
O diretor de arte inglês Adrian Cooper e o diretor de fotografia espanhol Pedro J. Márquez (“Ex-Pajé”, “A Última Floresta”) foram os responsáveis pelo trabalho de reconstrução de época.
Coprodução luso-brasileira. “A Viagem de Pedro” estreou nos cinemas no dia 1º de setembro, na semana do bicentenário da Independência.

