AFETUOSO, “NOITES DE PARIS” OBSERVA A CONDIÇÃO FEMININA DOS ANOS 80.

Por Celso Sabadin.

“Noites de Paris” é um filme de 2022 que se passa nos anos 1980. Mas o espectador mais – digamos – distraído, pode até achar que está vendo mesmo uma produção daquela época. Os enquadramentos, a textura, a cor, a utilização da trilha musical e até mesmo o velho truque de terminar a história com um quadro congelado, tudo remete à estética daquele período conhecido como “a década perdida”.

Rodar o filme com uma velha câmera Bolex foi uma das estratégias da direção de fotografia para dar ao longa tal aspecto saudosista.

Questões técnicas a parte, “Noites de Paris” é uma bela, simples, afetiva e afetuosa história sobre uma mulher que busca sua própria reinvenção. Ela é Elisabeth (Charlotte Gainsbourg, convincente), mãe de um casal de filhos adolescentes que, após a dolorida separação de seu marido, percebe que não é capacitada para nenhum tipo de emprego que possa garantir seu sustento.

 

O belo e luxuoso apartamento parisiense em que vive – em caráter precário – com os filhos contrasta frontalmente com sua situação financeira. Só lhe resta trabalhar como telefonista para um programa noturno de rádio, ao mesmo tempo em que tenta uma vaga de meio período como recepcionista em uma biblioteca.

 

Elisabeth é o típico retrato desta nova mulher que era jovem demais para participar dos movimentos feministas dos anos 1960, entrou nos anos 70 desavisada da nova ordem social que se configurava, e perdeu o bonde da história nos 80, vendo-se agora numa difícil jornada de adaptação solitária, enquanto os filhos iniciam seus próprios caminhos. Na busca, ela tenta, acerta, erra, bate a cabeça, acolhe, é acolhida, sacode a poeira… tudo sem perder a ternura, jamais.

 

As roteiristas Maud Ameline e Mariette Désert, em parceira com Mikhaël Hers – também diretor do filme – criam e desenvolvem uma protagonista encantadoramente humana, ao mesmo tempo em que constroem uma narrativa de agradável fluidez que faz a bem-vinda opção de nunca julgar, nem despejar juízos de valores sobre seus personagens.

 

Emmanuel Béart, ícone de sensualidade do cinema francês dos anos 90 em filmes como “Ciúme:- O Inferno do Amor Possessivo”, “Minha Secretária”, “Desejos Secretos” e “Missão Impossível”, entre outros, vive o marcante papel da chefe de Elisabeth na emissora de rádio.

 

Selecionado para a mostra competitiva do Festival de Berlim, “Noites de Paris” estreou nesta quinta, 20/10, em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre, Vitória, Curitiba e Niterói.