“MUCO: CONTRADIÇÃO NA TRADIÇÃO”, PELA CAUSA ANIMAL.
Por Celso Sabadin.
Em nossa percepção eternamente superficial das grandes questões mundiais, sempre ouvimos dizer que, na Índia, a vaca é um animal sagrado. O documentário “Muco: Contradição na Tradição” – coproduzido por Brasil, Índia e Estados Unidos – comprova tal crença, mas levanta uma inquietante questão: a Índia é o maior exportador de carne e leite do mundo.
Esta é a grande contradição à qual se refere o título do filme. O país, ao mesmo tempo em que sacraliza o animal, o maltrata com requintes de crueldade, abandonando bezerros pelas ruas, sacrificando filhotes machos, mantendo as fêmeas sempre grávidas, e priorizando todo e qualquer processos industrial produtivo em detrimento a questões éticas ou humanitárias. No país repleto de divindades, o capitalismo permanece cada vez mais fortalecido e inabalável.
Mantendo esta questão como linha narrativa básica, “Muco” também se ramifica pelo ativismo do veganismo, do ambientalismo e da yoga, coletando depoimentos de especialistas em medicina e de líderes espirituais, entre outros.
As denúncias que o longa escancara não são exatamente novidades, principalmente para quem já acompanha a causa vegana há algum tempo: a alta presença de pus e fezes nos leites de vaca industrializados; as luzes acesas 24 horas por dia, obrigando as galinhas a uma cruel produção de ovos; os conluios cafajestes entre as indústrias alimentícia e farmacêutica; a compra de estudos científicos falsificados para iludir a população; a transformação da Amazônia num grande pasto, incluindo a matança de povos originários, visando o bem estar do agronegócio predatório, e assim por diante. São crimes que afetam diariamente bilhões de pessoas em todo o mundo, e que devem de fato ser denunciados insistentemente, como “Muco” faz.
Em termos sociais e humanos, trata-se de um documentário urgente e necessário. Cinematograficamente, contudo, seu importante conteúdo se dilui em redundantes excessos de didatismo, e numa incessante trilha sonora que exaure o público, na medida em que não proporciona um segundo sequer de silêncio. Nos últimos minutos, nota-se uma grande dificuldade em terminar o longa, que apresenta sucessivas falsas finalizações, utiliza todo o tempo dos créditos finais para inserir ainda mais depoimentos, e usa e abusa de cenas pós-créditos. Fiquei até receoso que, após a projeção, alguém da produção do filme me abordasse pessoalmente para entregar um panfleto.
Selecionado em 40 festivais internacionais, e detentor – até o momento – de 21 premiações em eventos cinematográficos, “Muco: Contradição na Tradição” tem roteiro, edição e direção de Oberom, professor de Yoga formado em Educação Física, com pós graduações em Nutrição Humana e Saúde e em Yoga. Também é autor dos livros Viajando na Luz, No Fluir da Felicidade e Vegan Yoga.
A estreia nos cinemas foi nesta quinta, 8 de dezembro.

