“PLANO A”: PORQUE OS ÓDIOS NÃO TERMINAM QUANDO AS GUERRAS ACABAM.
Por Celso Sabadin.
Dizem os livros de História que a Segunda Guerra Mundial acabou em setembro de 1945. Pode até ser, pelo lado dos governantes e poderosos. Mas parte da população permaneceu em fervilhante estado bélico, nutrindo intermináveis ódios estruturais fomentados durante o conflito, e/ou planejando as mais impensáveis vinganças contra os opressores.
“Não é porque acabou a guerra que eu não posso mais matar judeus”, diz um dos personagens de “Plano A”, drama de guerra que estreou nos cinemas brasileiros no último 1º de dezembro.
A partir de um caso real, a ação tem início na Alemanha de 1945, e é centralizada em Max (August Diehl, o Major Hellstron de “Bastardos Inglórios”), sobrevivente de um campo de extermínio, que gravita perigosamente entre dois grupos de judeus que procuram – cada qual à sua maneira – superar as chagas do conflito. A solução, se é que ela existe, pode passar pelo conformismo pacifista, ou pelas mais cruéis retaliações. Corroído pela perda da família, Max é torturado por um dos – até hoje – mais enigmáticos questionamentos do holocausto judeu: por que ninguém se rebelava?
Muito mais que simplesmente outro drama sobre a Segunda Guerra, “Plano A” retrata uma realidade que nos remete direta e tristemente ao Brasil contemporâneo: a das feridas e rancores que se enraízam numa população após a deflagração extremista de ódios ideológicos, e de como tudo isso permanece arraigado na sociedade, mesmo após o principal agente destruidor ter sido extirpado. Seja ele Hitler ou Bolsonaro.
Embora resvale num certo tom panfletário em seu final, “Plano A” tem direção segura, interpretações convincentes, uma boa construção de personagens que evita o maniqueísmo simplista, além de fotografia e direção de arte das mais competentes.
Coproduzido por Alemanha e Israel, “Plano A” tem roteiro e direção dos irmãos Doron e Yoav Paz, os mesmos de “Jerusalém” e da versão 2018 de “A Lenda de Golem”. O filme segue em cartaz, agora em sua segunda semana de exibição.

