O DELICIOSO “O RIO DE JANEIRO DE HO CHI MINH” CHEGA AO CANAL BRASIL SEMANA QUE VEM.
Por Celso Sabadin.
Desde que se descobriu que o cineasta Robert Flaherty havia encenado ficcionalmente parte de seu seminal documentário “Nanook, o Esquimó”, em 1922, que se discute a questão da autenticidade do filme documental. E nestes últimos 100 anos, como tal discussão não chegou efetivamente a nada conclusivo, o melhor a fazer é relaxar e curtir os bons filmes, sejam eles ficcionais ou documentais. Afinal, como alguém que eu não lembro quem foi já disse, “Ligou a câmera, começou a mentira”.
Neste sentido, nada como curtir o delicioso “O Rio de Janeiro de Ho Chi Minh”, longa que se autodenomina uma “ficção disfarçada de documentário”, e que antes dos créditos finais coloca na tela: “Tudo neste filme é ficção. Menos as verdades”.
A ideia é investigar uma suposta amizade entre o mundialmente conhecido líder norte vietnamita Ho Chi Min (que derrotou os EUA na Guerra do Vietnã) e o mundialmente desconhecido marinheiro brasileiro apelidado de Faca Cega. Ambos teriam sido grandes amigos em seus anos de juventude, na década de 1910, e o brasileiro teria tido grande influência na carreira política do estadista comunista. Quem busca por estas respostas e conduz o documentário (ou a ficção?) é o ator, produtor, diretor de cinema, teatro e TV, Luiz Antonio Pilar, que no filme se apresenta como neto de Faca Cega.
O próprio material promocional do filme explica que especialistas de verdade e atores que fingem ser especialistas são entrevistados. Especialistas podem contar mentiras e atores podem falar sobre fatos históricos, ou não. O fato é que todos os testemunhos – falsos ou verdadeiros – foram escritos no roteiro, e não há como saber quem diz a verdade e quem mente.
Então, se tudo é um “ Samba do Crioulo Doido” (a música inclusive faz parte da trilha), para que ver o filme? Por vários motivos. Verdadeiro ou falso, o longa tem uma pegada ágil, irônica e divertida. Ousa brincar escancaradamente com os frágeis limites que separam – e unem – ficção e documentário. Mostra-se verdadeiro e informativo nos momentos que realmente importam, como em suas análises sobre os caminhos históricos do Vietnam, a Revolta da Chibata, a sociedade carioca, etc. Trabalha com um belo e vasto material de arquivo nem sempre geograficamente encaixado na suposta realidade do filme permitindo-se, por exemplo, mostrar imagens de Lumière para ilustrar o Rio de Janeiro. E, por último, levanta fortemente a questão do “fake”, que está longe de ser uma novidade, mas é importantíssima nesta nossa contemporaneidade de explosão indiscriminada de informações e – principalmente -desinformações.
O roteiro e a direção são de Claudia Mattos, PhD em Comunicação e Cultura pela UFRJ que trocou o jornalismo pelo audiovisual. Entre outros, realizou o longa documental “Porto da Pequena África” e o curta ficcional “Hora do Lanche”. Também escreveu e produziu o premiado longa “180º”.
O Rio de Janeiro de Ho Chi Minh” estreou nos cinemas dia 14 de julho, e chega ao Canal Brasil agora em 20 de dezembro, às 19 horas.

