“ME CHAMA QUE EU VOU”: VÁ.
Por Celso Sabadin.
Bons documentários biográficos geralmente registram com competência a vida e a obra do objeto biografado. Não faltam bons exemplos disso na cinematografia brasileira, com longas que captam músicos, compositores, escritores, arquitetos, políticos, etc. Nosso leque nacional de cinebiografias documentais é dos melhores.
Há outros longas, contudo, que além de documentar com eficiência a vida e obra de alguém (midiático ou anônimo, tanto faz), acabam imprimindo na tela também a própria alma de seu biografado. Trata-se, sei lá, de alguma magia empreendida pelos deuses do cinema que faz com que, ao final da projeção, fiquemos com a impressão de que nos tornamos amigos do personagem em questão, mesmo sem nunca tê-lo encontrado pessoalmente. “Me Chama que eu Vou” é um destes documentários: após vê-lo, me senti o melhor amigo de infância de um Sidney Magal que eu já mais vi em carne e osso.
Boa parte desta sensação se deve à capacidade que a diretora Joana Mariani demonstrou em deixar Sidney Magal totalmente à vontade diante de suas câmeras. Uma habilidade que – como se sabe – é ponto de honra na obra do grande documentarista Eduardo Coutinho.
Através das lentes de Joana, o famoso cantor popular se mostra totalmente consciente – e resolvido – com a convivência que há décadas desenvolve com suas duas “personalidades”: a primeira, de Sidney Magal, o fogoso amante latino sedutor e fogoso; e a segunda, de Sidney Magalhães, um sossegado pai de família, casado, igualmente há décadas, com a mesma mulher. Magalhães sabe perfeitamente que Magal nada mais é que a criação midiática de um personagem que – felizmente – não lhe subiu à cabeça com a fama. E melhor: que o diverte muito. Os dois se dão muito bem, e tal convivência pacífica e divertida é passada para o público com muito alto astral.
Com roteiro de Eduardo Gripa e da própria diretora, “Me Chama que eu Vou” também tem a preocupação de apresentar cuidadosamente o cantor para quem não teve a oportunidade de assisti-lo na grande mídia popular, traçando sua trajetória desde o início de sua carreira, a criação de seu nome e persona, as tentativas no exterior, até a consagração nos palcos e discos brasileiros. Com direito a filmes e novelas. Um documentário que de fato documenta, conduzido por um farto material de arquivo e por entrevistas do biografado
Premiado como a melhor montagem no Festival de Gramado, “Me Chama que eu Vou” estreou nesta quinta-feira, 12/01, nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e Brasília. Vá.
Quem é a diretora Joana Mariani
Joana Mariani é produtora, diretora e roteirista. Em 15 anos de carreira, fundou duas produtoras – MAR filmes e PRIMO filmes – e realizou mais de 40 obras desde que começou em 2008, com o “O Cheiro do Ralo”.
Desde 2017 à frente da MAR filmes, aonde prioriza a criação e desenvolvimento de projetos, Joana vem se dedicando nos últimos anos à direção. Seu primeiro longa-metragem de ficção, “Todas as Canções de Amor”, foi escolhido o Melhor Filme na Mostra Internacional de São Paulo 2018. Em 21/22, Joana dirigiu a série “Só se for por Amor”, para a Netflix, e assina a direção geral, junto com Carlos Saldanha, da série “How to be a Carioca”, para o Star Plus.
Entre suas obras recentes, estão também os documentários “Me Chama Que Eu Vou” e “A Imagem da Tolerância”, codirigido com Paula Trabulsi. Como produtora, Joana assina o premiado documentário “Aeroporto Central”, de Karim Aïnouz, e o recém filmado “O Meu Sangue ferve por você”, de Paulo Machline.

