“A PROFECIA DO MAL”: O INFERNO É AQUI.

Por Celso Sabadin.

Deve ter sido muito divertido fazer “A Profecia do Mal”. Assistir, nem tanto, mas escrever, produzir e dirigir deve ter sido hilariante.

O produtor e roteirista Ed Alan, aqui em seu primeiro filme (ou talvez seja um pseudônimo, pois não há nenhum outro registro no Imdb deste nome) desenvolve a história a partir do mito bíblico que relata a luta entre Lúcifer e o Anjo Miguel, da qual Miguel sai vitorioso e aprisiona Lúcifer nos porões do inferno. Até aí, tudo bem, mesmo porque há ótimos filmes criados a partir de deliciosas histórias da mitologia.

Contudo, em “A Profecia do Mal”, o inferno fica no planeta Terra, mais precisamente num subsolo italiano, sobre o qual foi construída uma gigantesca igreja, mosteiro, ou algo parecido, que desde a luta angelical ajuda a manter Lúcifer lá embaixo.

Corta para os dias atuais, na Catedral de Turim, Itália, onde acontece uma badalada exposição do Santo Sudário. Esta parte é, digamos, real. Ou seja: a Catedral de Turim realmente existe, e é onde fica de fato guardado o sudário, que seria o pano que teria enrolado o corpo de Cristo, depois de morto. O sangue de Cristo teria estampado seu rosto no pano, e é isto que atrai milhares de fiéis a Turim.

Repare todos os verbos no condicional. Afinal, nem o próprio Papa Francisco confirma a autenticidade do sudário. E nem desmente, porque ele não é bobo, nem nada.

Voltando ao filme, o que acontece é que uma legião de seres infernais quer se aproveitar da exposição do sudário para engedrar o renascimento de Lúcifer. Como? Simples: já que o tal pano é marcado com o sangue de Cristo, ele pode fornecer o DNA para a gestação de um novo bebê-Cristo, mas como toda a operação é armada pela turma do mal, a criança, portadora do  DNA de Cristo, nasceria como um bebê dos infernos, pois como se sabe Lúcifer nada mais é que um anjo caído. Aliás, ele é irmão do Anjo Miguel, sabia? Então.

Ah, importante: o filme mostra também que já existe – forte e operante – uma sociedade secreta formada por bilionários que encomendam clones dos grandes gênios da Humanidade. Tal sociedade já clonou, por exemplo, um pequeno Vivaldi (que faz uma bela apresentação de violino aos presentes), e acaba de clonar um bebê-Leonardo da Vinci, que será leiloado aos ávidos bilionários. Clonar Jesus, pra eles, seria moleza, mas para isso é necessário pegar o DNA estampado no pano.

Já sabemos que são os vilões da história, mas quem seria o herói? Será o Padre Marconi… bom, não exatamente o Padre Marconi, mas o próprio Anjo Miguel, que toma o corpo do Padre Marconi, da Catedral de Turim, assim que ele é morto pelos demônios. Isso: o herói do filme é um padre morto possuído por um anjo vingador. Às vezes ele posa de super-herói, saem uns raios do corpo dele, e tem até uma cena que ele quase vira o Hulk. Às vezes ele usa seus poderes de anjo (sim), e às vezes ele precisa recorrer a armas pesadas. Ele tem um Fiat Uno.

Bom, sem querer dar spoiler, o fato é que no final o portal do inferno que liberou os demônios para sequestrar o santo sudário precisará ser fechado, claro. Eu só não imaginava que se fecha um portal para o inferno com explosivos.

Para efeito de produção, tudo ficou facilitado pelo fato de Lúcifer, no começo do filme, ter sido enterrado por Miguel num lugar da Itália – coincidentemente – muito próximo à Catedral de Turim. Que na verdade foi filmado na República Tcheca, pois o filme é Tcheco, falado em inglês e italiano, para conquistar o mercado mundial. Mas depois disso tudo, quem se importa?

Não sei se foi a intenção do filme. Provavelmente não. Mas eu ri muito.

Dirigido pelo canadense radicado nos EUA Nathan Frankowski, “A Profecia do Mal” estreia nesta quinta-feira, 26/01.