UM CONVITE À SENSIBILIDADE, “PERLIMPS”, ESTREIA NESTA QUINTA.

Por Teo Bressane-Sabadin.

“Perlimps”, o mais recente longa de animação de Alê Abreu (“O Menino e o Mundo”), chega aos cinemas,  após passar por vários festivais a ter sua primeira exibição no Brasil no Festival do Rio, ano passado.

A trama, ambientada em um bosque encantado, acompanha a aventura dos agentes infiltrados Claé (Giulia Benite), do reino do Sol, e Bruô (Lorenzo Tarantelli), do reino da Lua, que, apesar de aparentes inimigos, descobrem estar na mesma missão: encontrar os Perlimps para salvar a floresta da ameaça dos gigantes.

Sem medo de arriscar, o filme brinca de maneira bastante astuciosa e delicada com o contraste entre uma abstração poética livre, misturando estilos e técnicas, e uma história firme e ordenada, fugindo dos formatos pré-estabelecidos de dramaturgia, traços e formas em um verdadeiro trabalho de autor.

Diferente do mudo e minimalista “O Menino e o Mundo”, “Perlimps”, além de colorido, é cheio de diálogos, buscando pesquisar os caminhos de imaginação da palavra, sem abrir mão de uma trilha recheada — elaborada por André Hosoi (Barbatuques) e o grupo Grivo, — que, com muitos sons de carimbó, nos convidam a adentrar esse bosque mágico.

Em debate após a sessão no Festival do Rio, o diretor faz menção à Paul Klee e seu princípio ao pintar no qual deixava que as próprias cores o guiassem ao resultado de suas obras. E assim é em “Perlimps”, repleto de cores que pincelam narrativamente a produção.

Para dar um exemplo, enquanto a floresta que é vista pelos gigantes é bastante figurativa e retratada por um vasto verde homogêneo, a floresta do bosque encantado é uma rica explosão, tendo os elementos que a compõe marcados por formatos abstratos e manchas intensas de todas as cores. Assim, nas ocasiões onde os gigantes permeiam o bosque, emitem luzes esverdeadas que precedem sua chegada, de forma que o verde — comumente associado por nós a uma natureza saudável — remete, em “Perlimps”, a uma visão rasa daqueles que representam ameaça e que não conhecem a colorida diversidade do bosque encantado.

A animação, realizada durante a pandemia, contou com um “estúdio de animação nas montanhas”, como definiu a produtora Laís Bodansky. A fala em questão se refere à mudança do diretor a Santo Antônio do Pinhal, interior paulista, que pôde ser acompanhado da equipe durante parte do processo, de modo que todos respirassem o bosque encantado junto com Alê ao se pensar e desenvolver a produção.

Partindo de um lugar abstrato, a equipe permite que os desenhos precedam a criação, que se dá de forma constante ao longo do trabalho. Como parte desse processo, os atores Lorenzo Tarantelli e Giulia Benite contam, por exemplo, que puderam ver suas vozes guiando o desenvolvimento da dupla protagonista que dublam.

Um filme sensível e repleto de mensagens não só para as crianças, mas também aos adultos, porém, ao meu ver, essa animação é acima de tudo um convite: que nos deixemos perlimpar para que não cresçamos demais a ponto de nos misturar aos gigantes.

“Perlimps estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 09/02.