“QUANDO FALTA O AR”, UM  DOCUMENTO HISTÓRICO SOBRE UM PERÍODO DIFÍCIL DE ACREDITAR.

Por Celso Sabadin.

Felizmente, o ar está voltando ao Brasil. Mas quem viveu jamais se esquecerá dos quatro anos de sufoco provocados no país por um governo que privilegia a morte em detrimento à vida. E tudo isso ainda potencializado, negativamente, por uma pandemia mundial de um vírus que atacava (e ataca) o sistema respiratório. É muita falta de ar junta!

Neste sentido, o documentário “Quando Falta o Ar” é muito mais que o registro de um período da vida brasileira: trata-se de um verdadeiro documento histórico a ser visto, revisto, analisado e estudado pelas novas gerações que não viveram a questão e terão dificuldades em acreditar em tudo o que aconteceu neste país tão inacreditável.

O longa observa com atenção e afeto o trabalho das mulheres do SUS  (o Sistema Único de Saúde, referência mundial em serviço público), principalmente durante o primeiro ano da pandemia do Covid 19, momento de extremos medo, incerteza e insegurança, quando ainda não havia sido desenvolvida a vacina para o vírus. Abrangente, o documentário acompanha profissionais em São Paulo, Bahia, Pernambuco, Paraná e Amazonas.

Um dos maiores méritos do filme é adotar um estilo de pura observação, sem qualquer tipo de discurso panfletário, muito menos redundante: a força das imagens e das personagens enfocadas falam por si. E como falam!

Explicita-se em “Quando Falta o Ar” a abissal situação de vulnerabilidade de grande parte da população, não somente pela precariedade das condições sócio-econômico-financeiras, como também pela profunda desinformação que atola este país em ignorância e notícias falsas. Corta o coração o sofrimento de uma entrevistada que, com lágrima nos olhos, pergunta se comer macaxeira pode dar Covid.

Da mesma forma que merece até um estudo a parte a total resignação e conformismo de grande parte dos depoentes que prefere creditar (ou no caso, debitar) todos os horrores e sofrimentos a uma suposta vontade divina, eximindo assim as responsabilidades de quaisquer poderes terrenos. Triste.

Vencedor do Festival É Tudo Verdade 2021, “Quando Falta o Ar” tem direção das irmãs Ana e Helena Petta, com roteiro de ambas, em parceria com Paulo Celestino.

A estreia nos cinemas é nesta quinta, 09/03, em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife, Belém, Manaus, Goiânia e Campinas.

 

Quem são as diretoras.

ANA PETTA é graduada em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo (ECA /USP), idealizou e produziu o documentário Repare Bem, de Maria de Medeiros,  e codirigiu o documentário Osvaldão. É atriz e criadora da Série de TV Unidade Básica, do Canal Universal Channel, disponível na GloboPlay. No teatro, foi atriz da Cia São Jorge de Variedades e Cia do Latão.

HELENA PETTA é médica infectologista, com doutorado no Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo. É visiting scholar no David Rockefeller Center for Latin American Studies e fellow do Film Study Center da Universidade de Harvard (2022-2023). É Criadora da série médica televisiva Unidade Básica, transmitida pelo canal Universal Channel e disponível na GloboPlay, e autora de “Unidade Básica: a saúde pública brasileira na TV”, da editora Hucitec.