“O CIRCO VOLTOU”, E INVESTIGA O BRASIL PROFUNDO.

Por Celso Sabadin.

Há algo de irresistivelmente delicioso nos processos de decadência e resistência da milenar atividade circense. Esta sensação de estar sempre no limite entre um passado distante e uma renovação improvável, o nomadismo, a dedicação quase cega de seus artistas, enfim, o circo traz um conjunto de encantamentos que beira o irresistível.

Paulo Caldas, conhecido pelo hoje clássico “Baile Perfumado” (que dirigiu com Lírio Ferreira), mergulha neste universo no documentário “O Circo Voltou”, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 30/03.

Misturando as linguagens do road movie com filme institucional, “O Circo Voltou” registra a trajetória do mestre circense José Wilson Moura Leite – ou simplesmente Zé Wilson – e sua caravana saindo de São Paulo rumo à cidade de Major Isidoro, no sertão de Alagoas. A ideia é cruzar este grande pedaço de chão brasileiro para retornar às suas origens de fundador do Circo Spadoni.

Pelo caminho, Zé Wilson e sua trupe fazem apresentações em Furquin (MG), Quilombo Cinzentos (BA) e em Palmeiras do Índios (AL), vilarejos onde conversam com a população local, tomando contato com seus anseios, esperanças e problemas. Zé Wilson também fundou, em 1984, o Circo Escola Picadeiro, que coordena até hoje, formando artistas e grupos circenses de destaque, como a Nau de Ícaros, Acrobáticos Fratelli, Parlapatões e La Minima, entre outros.

Além de valorizar as tradições circenses, o roteiro de Barbara Cunha busca também uma aproximação com o público infantil, ao transformar Pedrinho, filho de Zé Wilson (e também palhaço-mirim), num dos principais interlocutores entre o longa e as plateias que visa. Vale a viagem.

“O Circo Voltou” estreia em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre e, breve, em Recife.