A ALMA FEMININA IRLANDESA DE “CRIATURAS DO SENHOR”.
Por Celso Sabadin.
Há um clima diferenciado e atraente de misticismo e encantamento nos filmes feitos em pequenas comunidades do litoral irlandês. Tipo “Os Banshees de Inisherim”, sabe? “Criaturas do Senhor”, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta, 13/04, tem mais ou menos esta pegada. Embora claramente sem as perspicácia e ironia de seu premiado conterrâneo. O tom aqui é mais dramático.
Trata-se de um longa totalmente de alma feminina, roteirizado por duas mulheres (Fodhla Cronin O’Reilly e Shane Crowley), dirigido por outras duas (Saela Davis e Anna Rose Holmer ) e com o protagonismo da sempre irrepreensível Emily Watson, do inesquecível “Ondas do Destino”. Ela interpreta Aileen, uma mulher que se vê feliz e repentinamente surpreendida pelo retorno do filho Brian (Paul Mescal, grande destaque de “Aftersun”), que passara vários anos na Austrália.
Finda a euforia do reencontro, temas mais pesados começam a emergir: o que teria levado Brian a se exilar por tanto tempo em um lugar tão distante? E por que tão inesperado retorno? O coração de mãe começa a se inquietar.
Como pano de fundo, a vila de pescadores de ostras, onde tudo acontece, acaba se transformando praticamente em um personagem a parte, com seus ameaçadores ventos e mares bravios, além de subidas de maré tão repentinas quando o retorno do filho pródigo. Que talvez não seja tão pródigo.
Destaques muito especiais para a ela e sombria direção de fotografia de Chayse Irvin (o mesmo de “Blonde”), e para a inquietante dissonância da trilha musical assinada por Danny Bensi e Saunder Jurriaans.
Ah, importante: apesar do título, “Criaturas do Senhor” não tem nada de religioso, catequizador ou evangelizador. Ufa!