“REZANDO PELO ARMAGEDOM” ALERTA SOBRE A VIOLÊNCIA DO RADICALISMO RELIGIOSO.

por Celso Sabadin.

Em determinada cena de ”Rezando Pelo Armagedom”, filme que faz parte da Competição Internacional de Longas Metragens do É Tudo Verdade 2023 – um “pastor” (ou algo parecido) explica aos seus seguidores que na Bíblia está escrito que, se formos ofendidos, devemos oferecer a outra face. Mas que, alguns parágrafos adiante, também está escrito que as coisas mudarão. E que lá pelo final do livro tem um outro trecho dizendo que Jesus descerá com sua espada, no juízo final, punindo os infiéis. A justaposição destes três trechos bíblicos dá ao tal pastor a seguinte intepretação: era para dar a outra face, mas as coisas mudaram, e agora é pra pegar a espada e matar todo mundo que seja contra Jesus. E conclui: “Jesus não é da paz. Jesus é da guerra”.
É assim, interpretando e reinterpretando a Bíblia das formas mais toscas possíveis, que vários grupos radicais religiosos têm crescido nos EUA, espalhando em proporções geométricas a “mensagem” de que o fim do mundo será uma grande guerra, onde quem não estiver do lado de Jesus será sumariamente eliminado. E que isso é bom! Quer mais? A Bíblia também diz – nas visões ensandecidas destes falsários – que Jesus só poderá fazer o grande julgamento quando não houver mais nenhum palestino em Jerusalém. Logo, eliminá-los é fundamental para que aconteça o dia do juízo final.

Engana-se quem acredita que esta linha radical de pensamento esteja restrita a pequenos grupos de fanáticos. Pelo contrário: o filme alerta para o crescimento exponencial do evangelismo radical de direita dos EUA, que tem se alastrado como chuchu na serra nos meios políticos e militares. Principalmente, é claro, depois das bênçãos explícitas de Donald Trump.
Chama a atenção, por exemplo, uma cena onde vários soldados estadunidenses passam por um ritual de batismo coletivo, logo na sequência de um treinamento de campo.

Produzido pela Noruega, “Rezando pelo Armagedom” tem roteiro e direção de Tonje Hessen Schei e Michael Rowley. Sem trocadilho, o filme chega a ser apocalíptico.

As exibições em São Paulo estão agendadas para 13 de abril, às 14h00, na Cinemateca; e 23 de abril, às 19h30, no instituto Moreira Salles. Sempre gratuitas, como todo o Festival.

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