“A LINHA” QUE DIVIDE AMOR, ÓDIO E LOUCURA.

Por Celso Sabadin.

Na correria desenfreada – e absolutamente sem sentido – que boa parte da Humanidade impõe a si mesma nesta época de festas natalinas, alguns ótimos filmes acabam entrando e saindo de cartaz, sem que o cinéfilo se dê conta.

É o caso de “A Linha”, atualmente em sua segunda semana no circuito, e que talvez não encare uma terceira. O que seria injusto.

Selecionado para a Mostra Competitiva do Festival de Berlim do ano passado, “A Linha” escancara a gigantesca crise de relacionamento que assola uma família composta pela mãe Christina (a sempre ótima Valeria Bruni Tedeschi) e suas três filhas: Margareth (Stéphanie Blanchoud, também uma das roteiristas do filme), Louise (India Hair) e Marion (promissora estreia de Elli Spagnolo).

Se o lugar onde elas vivem, na Suíça, é pequeno e frio, seus conflitos são enormes e quentes. A primeira – e exasperante – cena já se apresenta no meio a uma violenta briga física entre Margareth e Christina, que vai parar em um hospital.  A filha recebe então uma ordem restritiva que a impede de se aproximar da mãe num raio de 100 metros. Caberá à caçula Marion transformar este limite imaginário judicial em uma linha física, que pautará o título do filme.

Mas há uma outra linha, bem mais difícil de demarcar, em pauta na obra: a da sanidade.

A questão é que a disfuncionalidade familiar é tão profunda que os integrantes deste torto quadrilátero mal conseguem distinguir o que mais desejam: se efetivamente reatar laços afetivos, ou se mergulhar na autodestruição.

O roteiro de Stéphanie Blanchoud, Antoine Jaccoud e de Ursula Meier, também diretora do filme, paulatinamente revela os prováveis acontecimentos do passado que possam ter levado a tamanho caos de sentimentos.

Meier já era conhecida em Berlim pelo seu filme “Minha Irmã” vencedor do Prêmio Especial naquele festival.

Se Valeria Bruni Tedeschi por si só já é motivo suficiente para me levar ao cinema, desta vez ela tem a companhia de Stéphanie Blanchoud, que rouba a cena com esta aguda intepretação de uma filha em busca do amor da própria mãe.

Coproduzido por Suíça, França e Bélgica, “A Linha” é uma das ótimas opções para ver no cinema antes da virada do ano. Melhor correr.