ENGOLINDO “OS SAPOS” DOS RELACIONAMENTOS TÓXICOS.
Por Celso Sabadin.
Quando um grupo de pessoas se encontra numa casa isolada de tudo, onde não pega nem sinal de celular, quem curte cinema já sabe: trata-se de um filme de terror.
“Os Sapos” pode até ser considerado como um longa deste gênero, mas com uma ressalva muito importante: aqui, o horror não vem de fantasmas, entidades, monstros, nada disso. Nem de sapos. Neste caso, o terror pode estar dentro de cada um dos personagens, e ele se manifestará pelas vias de terríveis relacionamentos tóxicos. Pode ser menos cinematográfico que um psicopata correndo pra lá e pra cá com uma motosserra assassina, mas também pode ser mais assustador. Afinal, relacionamentos abusivos são muito mais comuns que monstros sanguinolentos.
Tudo começa quando Paula (Thalita Carauta) chega para um churrasco na casa de campo de Marcelo (Pierre Santos) e Luciana (Karina Ramil), na expectativa de encontrar a velha turma da escola. Porém, como o tal encontro havia sido cancelado, sem o conhecimento de Paula, cria-se uma situação de desconforto, pois o próximo ônibus que poderia levá-la de volta só sairá na manhã seguinte.
O inesperado trio tenta, assim, dentro de um possível bom senso, manter o constrangimento afastado. Porém, mais personagens surgirão na casa, fazendo aflorar antigas tensões.
Adaptar uma peça teatral para uma obra cinematográfica – como é o caso aqui – não é necessariamente um problema. Vários filmes já o fizeram, com sucesso. A questão é quando o produto audiovisual resultante não consegue se desvencilhar da linguagem dos palcos. O que também é o caso aqui. Em outras palavras, falta cinema em “Os Sapos”. As atuações de todo o elenco estão equalizadas e são satisfatórias, as situações constroem-se com certa coerência e ritmo, mas um certo descuido com planos, enquadramentos e luzes acabam inevitavelmente remetendo à origem cênica da obra.
Talvez – provavelmente – o estilo e o tom desagradem aos cinéfilos.
“Os Sapos” estreou no Festival Internacional de Cinema de João Pessoa, onde recebeu os prêmios de Melhor Roteiro (Renata Mizrahi), Melhor Direção (Clara Linhart) e Melhor Montagem (Nina Galanternick). Também foi premiado no Festival Internacional de Colombo, conquistando o prêmio de Melhor Montagem, e no Festival Internacional de Cinema da Província de Buenos Aires, onde levou o Prêmio de Melhor Filme Internacional.
Com direção de Clara Linhart e roteiro de Renata Mizrahi, o longa estreia em cinemas brasileiros nesta quinta, 06/02.
Quem são as autoras
“Os Sapos” não é a primeira parceria de Clara (Domingo, Eu Sou Maria) e Renata (prêmio Shell 2014 pela peça Galápagos, melhor roteiro no festival de Triunfo por Amores de Chumbo). As duas participaram do projeto “Silêncio!”, peça sobre judias polacas, no qual Renata escreveu e Clara documentou a pesquisa, gerando o premiado curta Em Paz.
Clara Linhart – Diretora e Produtora
Formada em Ciências Sociais pela PUC-Rio e em Cinema Documentário pela FGV-Rio, trabalha em audiovisual desde 2001 como assistente de direção, diretora e produtora. Dirigiu os longas La Manuela (2017), Domingo (2018), Eu sou Maria (2023) e Os Sapos (2024) e os curta-metragens Os Sapos (2011), Luna e Cinara (2012), Em Paz (2014) e No Mar (2023). O documentário La Manuela ganhou o prêmio de Melhor Documentário no Festival Audiovisual do Mercosul (2018). Domingo, co-dirigido por Fellipe Barbosa, estreou no Festival de Veneza de 2018 e foi lançado comercialmente na França em 2018 e no Brasil em 2019. Domingo venceu os prêmios de Melhor Atriz para Itala Nandi (Festival do Rio e de Fronteira), Júri Popular (Fronteira) e Prêmio dos Cineclubes (Santa Maria da Feira). Eu sou Maria estreou no Festival do Rio e foi lançado nos cinemas em 2023.
Renata Mizrahi – Roteirista
No cinema, ganhou o prêmio de Melhor roteiro no Festival de Triunfo pelo filme Amores de Chumbo e melhor roteiro no Festival Internacional de João Pessoa por Os Sapos. Autora do curta “Bodas”, que ganhou o prêmio de Melhor Filme no Primeiro Festival Internacional de La Gent Gran de Barcelona 2019. Escreveu e dirigiu o curta As Melhores que ganhou menção honrosa na FICI 2024. Venceu o Festival Cabíria 2020 de melhor argumento infanto-juvenil (com Renata Diniz) por “Rodante”. Na TV escreveu o telefilme Maria, que estreou em maio de 2023 na TV Globo Brasília e passou no Tela Quente, atualmente Globoplay. Escreveu a segunda temporada de Homens São de Marte… (GNT), a segunda temporada da série Matches (Warner / HBO), formatou e escreveu Tem Criança na Cozinha (Gloob) que ganhou o prêmio Comkids e foi indicado ao Emmy Kids, A Vila (Multishow). No teatro, ganhou o Prêmio Shell por Galápagos, em 2014. E os prêmios Zilka Salaberry 2010 e 2012 pelos infantis Joaquim e as Estrelas e Coisas que a Gente Não Vê.

