“HOMENS DE BARRO”, O ROMEU & ROMEU DOS PAMPAS.

Por Celso Sabadin.

O material de imprensa de “Homens de Barro” informa que a trama do filme remete ao clássico “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare. Mas com duas alterações fundamentais: o romance proibido acontece entre dois homens; e no interior do Rio Grande do Sul.

Os envolvidos são Pássaro (Gui Mallmann) e Ângelo (João Pedro Prates), dois rapazes que se conhecem e brincam juntos desde crianças, mesmo contra a vontade de seus respectivos pais, concorrentes ferrenhos no mercado de tijolos (o que inspira o título do filme).

Após uma tragédia marcar as vidas das famílias destes dois pequenos empresários, um corte de tempo nos leva à vida adulta destes “Montecchios” e “Capulettos” dos pampas. E percebemos que os novos tempos herdaram o preconceito e a intolerância do passado, continuando assim a pavimentar os caminhos da ignorância e da tragédia anunciada. E isso não é um spoiler, porque o filme é todo narrado em flash back.

É esta narração, aliás, que muito contribui para a diminuição da carga dramática da trama. A voz em off (muleta histórica do cinema brasileiro), redundante e onipresente da primeira à última cena, só faz distanciar o público dos protagonistas, e em nada acrescenta ao que já está sendo satisfatoriamente visualizado.

Proponho inclusive um exercício de percepção: veja o filme imaginando que a narração em off não existe. E perceba como ele ganharia em dramaturgia e intensidade.

“Homens de Barro” é uma coprodução Brasil e Argentina, com roteiro dos argentinos Gonzalo Heredia e Fernando Musa, e direção da brasileira Angelisa Stein. O elenco conta ainda com Alexandre Borin, Cassiano Ranzolin, Rafael Guerra, Gabriela Greco, Felicitas Chaves, Nestor Monastério, Bruno Fernandes, Artur Gaudenzi e Mariana Catalane.

O filme estreia em Porto Alegre em 6 de fevereiro, chegando a São Paulo, Rio e outras cidades na semana seguinte, dia 13.

Quem dirige

“Homens de Barro” é o primeiro longa de ficção dirigido pela produtora brasileira Angelisa Stein. Em 2022, a cineasta estreou como diretora no documentário de curta metragem Fremd – O Estrangeiro. Angelisa atuou na produção executiva de filmes como O Palhaço (2011), de Selton Mello, e Zama (2017), de Lucrecia Martel, e é produtora do longa Time Travel Loop, que tem Fernando Meirelles como produtor associado, e de Dolores, de Jack Dickinson.