O CONVENCIONAL “BOLERO – A MELODIA ETERNA” CRITICA O CONVENCIONAL.

Por Celso Sabadin.

Não sei dizer exatamente os motivos, mas pelo menos para mim é sempre recompensador assistir a cinebiografias dos grandes mestres da música… mesmo sabendo que elas estão repletas de licenças poéticas que muito provavelmente pouco têm a ver com a realidade dos fatos.

Talvez lá no fundo o nosso lado cruel goste de ver que esses gênios sempre têm algum tipo de perturbação que acaba nos servindo como uma espécie de “consolo” pela mediocridade dos tempos atuais. Algo do tipo “Viu? Ele era genial, mas era perturbado”. Ou será que não existe genialidade sem perrengue?

Bom… retratando a vida do genial Maurice Ravel, o filme “Bolero – A Melodia Eterna” não aborda nada disso que eu estou falando aí em cima. Mas é gostoso de ver, mesmo exalando uma narrativa extremamente clássica e convencional, quase didática. E nem poderia ser diferente, pois uma das coprodutoras do longa é a Netflix, empresa que foge de narrativas criativas.

“Bolero – A Melodia Eterna” tem roteiro de Claire Barré e da própria diretora, Anne Fontaine. O ponto de partida são os ensaios, textos e pesquisas realizados pelo musicólogo, jornalista e produtor de rádio Marcel Marnat, um especialista em música francesa.

O filme se centraliza nas frustrações que Ravel desenvolve por não conseguir ser suficientemente reconhecido dentro das rodas mais conservadoras da música erudita. Ousada e muitas vezes dissonante, sua música estava à frente de seu tempo. Até a sua obra mais famosa – que o eternizou e dá nome ao filme – tratou-se de uma encomenda, que nem o próprio Ravel conseguia desenvolver a contento.

Não deixa de ser curioso ver um filme convencional retratando a história de um artista que sofreu por não conseguir ser compreendido pelos convencionais.

Em cartaz em cinemas desde a última quinta, dia 17/04, “Bolero – A Melodia Eterna” é estrelado por Raphaël Personnaz (“Anna Karenina” e “O Palácio Francês”), Doria Tillier (“Iris” e “A Origem do Mal”), Jeanne Balibar (“Os Miseráveis” e “Guerra Fria”) e Emmanuelle Devos (“Sobre Meus Lábios” e “Coco Antes de Chanel”).