“EMANUELLE”: 50 TONS DE TÉDIO.
Por Celso Sabadin.
Em 1974, a produção francesa “Emmanuelle” ganhou fama mundial ao levar um alto grau de erotismo ao cinemão comercial. Mostrando as aventuras sexuais da bela jovem que nomeia o longa (a holandesa Sylvia Krystel, com 21 anos na época da filmagem), “Emmanuelle” desagradou a crítica, mas transformou-se em fenômeno de público, gerando um punhado de continuações. O filme só chegaria no Brasil cinco anos depois, em época de lenta abertura democrática.
Como nada se cria, nada se perde, tudo se refilma, chega hoje (11/07) aos cinemas do Brasil um novo “Emmanuelle”, novamente produzido pela França – agora em coprodução com os EUA – e com a parisiense Noémie Merlant (ótima em “Retrato de Uma Jovem em Chamas”, insossa aqui) no papel título. Nada poderia ser mais dispensável.
Nos anos 70, o tema da liberação feminina através dos desejos da mulher era dos mais ousados, e a atitude da produção em criar uma espécie de pornô-chic (embora nada fosse explícito) conseguiu encontrar repercussão na sociedade de então. Retomar o assunto mais de meio século depois, e sem a necessária atualização, se mostrou um grande equívoco. Além de não exalar a sensualidade pretendida, o roteiro de Rebecca Zlotowski e Audrey Diwan (esta também diretora do filme) é conservador e careta ao construir uma protagonista que de liberal e feminista nada tem. Certamente a coprodução com os EUA inviabilizou uma narrativa mais apimentada.
Resta somente um certo charme de direção de arte e fotografia que retratam o hotel de luxo em que Emanuelle atua como consultora de padrões de qualidade, mas nada que consiga sustentar o interesse pelo filme.