O PROFUNDO BRASIL MÍSTICO DE “PACTO DA VIOLA”.

por Celso Sabadin

Entra em sua segunda semana em cartaz em cinemas o longa “Pacto da Viola”, que rendeu ao seu protagonista, Wellington Abreu, o prêmio de Melhor Ator no Festival de Brasília do ano passado.

Misturando drama com uma boa dose de misticismo, “Pacto do Diabo” tem uma trama que me lembrou bastante a trajetória de Robert Johnson (1911-1934), músico dos mais influentes do blues estadunidense. Lendas da época que se perpetuaram por décadas dizem que Johnson teria vendido sua alma ao diabo para se tornar o sucesso musical que de fato se tornou. Uma espécie de Fausto moderno cuja história também foi lembrada no filme “A Encruzilhada”, de 1986.

Nesta – digamos – releitura brasileira de Robert Johnson, o roteiro de Roberto Robalinho, Aurélio Aragão e do próprio diretor, Guilherme Bacalhao, aborda o reencontro de gerações através da música.

Após tentar, sem sucesso, ganhar a vida cantando músicas românticas sertanejas, Alex (Wellington Abreu) retorna à sua cidade natal, onde reencontra o pai, Lázaro (Sérgio Vianna). Violeiro dos mais habilidosos, Lázaro é um respeitadíssimo Capitão da Folia de Reis no vilarejo, mas se recusa a tocar desde a morte da esposa. O retorno do filho não muito pródigo fará reviver velhas histórias e antigos sentimentos sobre a família e sua relação com o que ainda pode restar de um Brasil profundo.

“A ideia do filme nasceu do fascínio pela dualidade da viola. Ela é um instrumento que pode conectar os músicos tanto ao sagrado quanto ao profano. Isso abre espaço para uma narrativa cheia de mistério e espiritualidade, mas que também está profundamente enraizada nas tradições do sertão”, conta Bacalhao em entrevista.

As origens do longa estão em pesquisas acadêmicas sobre a viola e a folia de reis, como os trabalhos do antropólogo Luzimar Pereira. Para se aprofundar nesse universo, o diretor viajou para o interior de Minas Gerais com o pesquisador musical Cacai Nunes, onde conversou com violeiros, capitães de folia e moradores para conhecer melhor essas tradições. A trilha sonora é do músico e pesquisador Roberto Correa, que também prestou consultoria ao projeto.

“Pacto da Viola” recebeu ainda os prêmios de Melhor Longa no Cordillera De Los Andes International Film Festival (Equador) e no Sevilla Indie Film (Espanha) e de – Melhor Diretor Estreante – Cine Paris Film Festival (França).

 

Quem dirige

Documentarista, produtor e diretor de TV, Guilherme Bacalhao acumula experiências no Audiovisual desde 2000, ano que produziu o premiado projeto Curtas Mudos, trabalho eleito pelo Jornal de Brasília como o destaque do ano na área de cinema. De lá para cá dirigiu programas televisivos, curtas independentes e documentários. É sócio da produtora brasiliense 400 filmes, tendo produzido 8 longas-metragens e 11 curtas. Para televisão, dirigiu séries documentais, programas de auditório, de entrevistas e diversos documentários. Sua vontade de conhecer histórias e personagens ignorados pela mídia se traduziu nos curtas Feliz Natal (2006) e Roleiros (2003) – documentário que recebeu nove prêmios nos inúmeros festivais de cinema onde foi exibido. Recentemente dirigiu o curta ficcional Terminal (2024) e o curta documental Ilha do Ferro – a arte do imaginário (2024). Paralelamente aos seus projetos, trabalhou em mais de vinte filmes, principalmente como assistente de direção ou diretor de produção. Pacto da Viola é o seu primeiro longa-metragem como diretor.