A SEGUNDA GUERRA EM DOCUMENTÁRIOS INÉDITOS.

Por Celso Sabadin.

O planeta comemora agora, entre os meses de agosto e setembro, vários acontecimentos que culminaram com o fim definitivo da Segunda Guerra Mundial, em 2 de setembro de 1945, data da assinatura da rendição incondicional do Japão. São 80 anos da ilusão que estaria terminando a última das guerras.

Embora a ideologia nazifascista não tenha sido totalmente extirpada da face da Terra, como se acreditou naquele momento, vale relembrar os fatos históricos do conflito. Nem que seja para reforçar a ideia de que fascismo não se discute: se combate.

Os 80 anos do término da Segunda Guerra estão sendo comemorados pelo Canal Curta! e pela plataforma de streaming CurtaOn da melhor maneira possível: com informação, através da exibição de vários documentários, alguns deles inéditos.

Mas ainda existiria algo de novo para falar sobre o assunto? A resposta é sim. E como! A cada ano, novas pesquisas, interpretações e investigações sobre o tema – que parece inesgotável – vêm à tona, além de segredos de guerra que são liberados com o passar do tempo.

Serão 29 títulos disponibilizados de 5 de setembro a 10 de outubro. Os documentários inéditos são: “Churchill, Roosevelt e Stálin: A Paz Impossível”, “Desmascarando os Assassinos do Terceiro Reich”, “Segunda Guerra Mundial: Operação Barbarossa”, “Memórias da Segunda Guerra Mundial” e “Pearl Harbor: O Mundo em Chamas”. Assisti a todos eles, com um interesse renovado e atento, e a partir de hoje o Planeta Tela publicará algumas considerações sobre esses longas.

Churchill, Roosevelt e Stálin: A Paz Impossível

Geralmente somos levados a crer que – na Segunda Guerra Mundial – a união de Churchill, Roosevelt e Stálin contra Hitler, Mussolini e Hiroito levaram os aliados à vitória. Pode até ser basicamente verdade, mas tal raciocínio é bastante superficial. O documentário “Churchill, Roosevelt e Stálin: A Paz Impossível” mostra que as relações entre estes três chefes de estado eram bem mais complexas – e até belicosas (e não beliciosas, como diria o infeliz governador de Minas) – do que a mídia da época fazia crer.

Feito para a TV, o filme se apoia fortemente em informações prestadas pelo diplomata Charles Bohlen, estadunidense que também dominava o idioma russo, e que foi o intérprete oficial de Roosevelt nas históricas conferências de Teerã (1943) e Yalta (1945), determinantes nos rumos da Guerra.

Bohlen presenciou as negociações entre Roosevelt, Churchill e Stálin, mesmo depois de todas as câmeras dos cinegrafistas terem sido deligadas e de todos os caderninhos de anotações dos repórteres terem sido guardados. E o que o documentário revela – via Bohlen – é desalentador.

Segundo o filme, Churchill e Stálin negociavam como iriam dividir a Europa, após a guerra, como quem troca figurinhas ou joga War. Roosevelt teria entregue a Stálin um percentual maior dos países balcãs em troca de um pedaço mais generoso da Polônia. Os russos, por sua vez, teriam abandonado o movimento antinazista grego à própria sorte, causando a morte de milhares de aliados, em troca de um pedaço maior de terra aqui e ali. Roosevelt priorizava a sobrevivência dos povos europeus que tivessem mais descendentes nos EUA, sempre visando sua reeleição no pleito de 1944, entregando os demais à URSS, como moeda de troca. E divertia-se com o mau humor de Churchill frente às tiradas cômicas de Stálin. Estados de embriaguez entre estes líderes mundiais também são citados.

Bohlen ainda cita uma fala de Churchill, durante uma destas reuniões: “O que nós estamos fazendo aqui é muito cínico”.

Curiosamente, mesmo diante deste cenário patético, o tom deste  documentário de produção francesa é sempre anti-soviético, invariavelmente referindo-se a Stálin como “o ditador” ou “o tirano”. No início do filme, a direção de Cédric Tourbe chega a equiparar Stálin a Hitler, e atribui a Roosevelt a meiga qualidade de “ingênuo”.

Como se percebe, mesmo 80 anos depois, as narrativas tendenciosas permanecem. E obviamente sempre permanecerão. Nada, é claro, que minimize a encantadora quantidade de informações levantadas pelo longa. O importante é manter o senso crítico neste nosso mundo atual, tão ou mais polarizado como o de décadas atrás.