”PARA VIGO ME VOY!”, UMA VIAGEM EMOTIVA PELA OBRA DE CACÁ DIEGUES.
Por Celso Sabadin, de Fortaleza.
Vindo de Alagoas e radicado no Rio de Janeiro, Carlos José Fontes Diegues – ou simplesmente Cacá – foi um dos fundadores do Cinema Novo, ainda adolescente, quando estudava Direito na PUC. Entrou no cinema pelas portas da Academia, criando um cineclube na Universidade, e não parou mais até fevereiro deste ano, quando morreu, deixando “Deus Ainda é Brasileiro” por finalizar. Este será seu 19º longa metragem dirigido para cinema, fora curtas, vídeos, trabalhos para TV e várias produções e roteiros. Na bagagem, três indicações em Cannes, fora os vários prêmios em festivais pelo Brasil e pelo mundo.
Parte desta história é contada com muita afetuosidade no documentário “Para Vigo me Voy!”, exibido em sessão especial – fora de competição – no 35º CineCeará.
Confesso que fiquei bem ressabiado logo nos créditos de abertura do longa, que citavam GloboNews e Gullane. Temi que estas duas empresas (bastante competentes em empacotar seus longas em vistosas embalagens para presente, mas nem sempre com o conteúdo artístico admirado por este que vos escreve) transformassem Cacá num daqueles produtos formatados para streaming, ou seja, com muita maquiagem e sem nuances. Que bom: eu estava errado.
“Para Vigo Me Voy!” trabalha quatro linhas narrativas que se entrelaçam: uma sucessão histórica de entrevistas nacionais e internacionais concedidas pelo próprio biografado no decorrer de sua carreira, momentos marcantes da maioria de seus trabalhos, filmagens caseiras, e cenas de making of do inédito “Deus Ainda é Brasileiro”.
O longa não se abstém de tocar na polêmica questão que afastou Diegues de alguns de seus colegas de Cinema Novo: a criação e difusão da expressão “Patrulha Ideológica”, através da qual o cineasta reivindicava seu direito artístico de fazer filmes que fossem simplesmente emotivos e poéticos, e não necessariamente políticos. Em época de ditadura, tal postura gerou várias e severas críticas a Diegues, que por um momento passou a ser rotulado negativamente por colegas mais militantes.
Explodem também nas telas as cores e as coreografias presentes em boa parte de seus filmes, invariavelmente recheados de alegorias carnavalescas que rejeitavam o mero registro realista. Chegando a afirmar – em entrevista antiga – que sua maior frustração foi não ter sido maestro, Diegues explicita também a força e a importância das trilhas musicais em sua obra.
Não por acaso, o título do documentário faz referência à homônima canção cubana cujo título servia como “palavras mágicas” para o personagem de José Wilker em “Bye Bye Brasil”.
Filmes e canções inesquecíveis aliadas à magia e à poesia: tem tudo isso e mais um pouco em “Para Vigo me Voy”, dirigido por Lírio Ferreira e Karen Harley.
A programação completa do 35º Cine Ceará está em https://cineceara.com/