PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE “O AGENTE SECRETO”.
Por Celso Sabadin, de Fortaleza.
Os ingressos disponibilizados pela internet para “O Agente Secreto”, exibido fora de concurso na noite de ontem, 24/09, aqui no 35º Cine Ceará, esgotaram-se em menos de… 60 segundos. O fato dá uma dimensão da expectativa que o filme está causando em todo o país.
Posso afirmar que os sortudos que conseguiram ingresso saíram do Cine São Luiz maravilhados. A menos que haja um ou outro sem noção para reclamar do “cinema nacional cheio de palavrão e comunista”. Mas acredito que ontem não teve nenhum. Não no Cine Ceará, um festival em que a gente não pode mandar ninguém ir pra Cuba, porque quase todo mundo já foi. E amou.
Particularmente, saí do filme em estado de graça. Kleber Mendonça Filho cada vez mais se insere no firmamento dos grandes cineastas mundiais, daqueles cuja obra sempre propõe viagens novas e fascinantes.
Kleber rasga com furor e talento todos aqueles manuaizinhos de roteiros que querem transformar a atividade criativa numa receita de bolo, determinando onde, quando e como desenvolver personagens, conflitos e plot twists. E bolo da Oxxo, ainda, daqueles sem sabor algum. Seu cinema se abre às plateias em variadas frentes, variadas janelas narrativas de diferentes tamanhos propondo uma plêiade de personagens que acabam cumprindo papeis especiais na dramaturgia, independente de seus tempos de tela. É um cinema que provoca.
Neste contexto, “O Agente Secreto” não se insere na configuração de “filme coral” (que Robert Altman fazia com maestria) que vimos em “O Som ao Redor” e “Bacurau”; nem opta pelo protagonismo pleno de um único personagem, como em “Aquarius”. Claro, em “O Agente Secreto” há evidentemente o protagonismo dominante de Wagner Moura, mas ele se apresenta no filme como uma espécie de “abridor” destas janelas que citei acima, que em deliciosa desordem cronológica e rígida ordem narrativa vão abrindo para o público a riqueza dos personagens e a dramaticidade das situações propostas.
E o melhor e mais importante: sem a preocupação de fechar todas as janelas. Cada um que feche as suas, a caminho de casa, no final da sessão. Ou as deixe abertas para as reflexões entrarem.
Tamanha diversidade dos níveis narrativos que vemos emanar da tela permite ao longa desfilar com total desenvoltura pelo drama, pela comédia e pela aventura, aproximando-o ainda mais da realidade desta coisa que chamamos de vida. Mais que isso, “O Agente Secreto” desfila também com elegância e fluidez pelos espaços geográficos onde as ações se desenvolvem, e principalmente pelos tempos históricos – poderosos condutores da trama – que escancaram diante de nossos olhos que o ano de 1977 e suas pirraças ainda não acabaram. E que estão longe disso.
Deveriam ainda ser ressaltadas as várias características técnicas – direção de arte, efeitos visuais, fotografia, colorização, montagem, trilha musical, e muitos etcéteras – que beiram à perfeição em “O Agente Secreto”. Mas talvez eu volte a este texto quando voltar ao filme (o que espero fazer brevemente). Não se trata de um filme analisável em um único texto.
No momento, ainda sob o impacto da exibição de ontem à noite, estou tentando fechar minhas janelas… embora acredito que vou preferir deixá-las bem abertas.
Celso Sabadin cobre o 35º CineCeará a convite da organização do evento.