O MERGULHO PROFUNDO DE “AO OESTE, EM ZAPATA”

Por Celso Sabadin, de Fortaleza.

Pintou o campeão. Penúltimo longa metragem a ser exibido na mostra competitiva do 35º Cine Ceará, o documentário cubano “Ao Oeste, em Zapata” se apresenta como o filme de melhores qualidades cinematográficas da competição do evento.

Obra radicalmente independente realizada quase que totalmente por um único cineasta (o espanhol radicado em Cuba David Beltrán i Mari), “Ao Oeste, em Zapata” documenta um micro grupo familiar estabelecido no pântano de Zapata, uma reserva da biosfera ao sul da famosa ilha de Fidel. Um lugar desconhecido pelos próprios cubanos.

Em total solidão e em condições selvagens de vida, Landi caça jacarés com métodos pré-históricos. E proibidos. A alguns dias de caminhada dali – também em condições de isolamento profundo – a esposa Mercedes e o filho do casal o aguardam. Os únicos sons que ouvem vindos da civilização são os noticiários de rádio e TV, todos abordando delicadas questões da situação política do país.

Ultimamente, popularizou-se e banalizou-se o termo “experiência imersiva” para qualquer exposição de qualquer coisa. Mas “Ao Oeste, em Zapata” é um filme que de fato mereceria este selo. Mari mergulha (em determinados momentos, literalmente) no universo de Landi e Mercedes com uma câmera observativa e curiosa que hipnotiza a plateia, lançando-a com profundidade no objeto documentado. No ensurdecedor silêncio quase absoluto do pântano, o som dos insetos se potencializa. O tempo é estendido para uma profunda lentidão reflexiva. A fotografia é deslumbrante. O resultado é catártico. O filme é precioso.

Quem dirige

David Beltrán i Marí  iniciou seus estudos na Escola de Cinema da Catalunha (ESCAC). Em 2015 escreveu e dirigiu The Last Two, curta-metragem baseado na história de um casal de idosos, últimos habitantes de uma vila fantasma na zona rural da Espanha. Naquele mesmo ano, foi selecionado para estudar direção na Escola Internacional de Cinema de Cuba (EICTV). Desde 2017, cria conteúdo audiovisual e cultural para o Taller Chullima, espaço cultural sem fins lucrativos em Havana, onde artistas internacionais oferecem workshops e masterclasses para residentes locais interessados nas artes. Em 2019, participou da Bienal de Havana com a obra visual ‘Infinite Journey’, que explora a macroescultura de Wilfredo Prieto, situada na paisagem rural de Cuba. Desde 2021 equilibra sua carreira artística com o ensino. Sua oficina de cinema Constructing A New Fiction recebeu o prêmio EUNIC Cluster Fund Cuba 2023 — da rede de Institutos Culturais Nacionais da União Europeia, em reconhecimento às suas contribuições pedagógicas e culturais no país. Em 2023 fundou e atualmente dirige o FICCLAB, um programa internacional da EICTV, focado no desenvolvimento de primeiros longas-metragens por meio de oficinas, masterclasses e sessões de mentoria com cineastas, roteiristas e produtores.