O “NÓ” DA LUTA CONTRA A EXCLUSÃO.

Por Celso Sabadin.

Filmes que relatam a opressão e a exclusão históricas e congênitas que assolam boa parte da população brasileira geralmente se equilibram entre a tênue linha que separa a realidade da superficial exploração audiovisual da miséria. É sempre uma aposta perigosa, fácil de escorregar para caminhos meramente enganosos.

Estreando em cinemas nesta quinta, 16/10, “Nó” vence esta aposta perigosa. E com louvor. Para isso, contou com – pelo menos – dois grandes trunfos: um elenco afiadíssimo que transborda verdade, e uma direção sensível que com muito equilíbrio evita as armadilhas que a trama poderia proporcionar.

Com roteiro de Patricia Saravy (que também interpreta a personagem principal) e da própria diretora, Laís Melo, “Nó” se centraliza em Glória, mulher periférica que luta a inglória batalha da vida em várias frentes. No emprego, engaja-se numa competição interna entre funcionários promovida por uma liderança sórdida. Na família, toureia a complicada tarefa de educar três filhas. No casamento desfeito, enfrenta o machismo tóxico. E no dia-a-dia, equilibra-se nos limites do tal abismo social. Haja rede de apoio!

Com sobriedade, “Nó” monta um painel realista e ao mesmo tempo poético das condições desta protagonista que consegue criar uma intensa empatia com o público logo em seus primeiros segundos de tela. O resultado se fez notar no recente Festival de Gramado, onde venceu os prêmios de Fotografia, Direção e Melhor Filme pela Crítica.

Uma estreia em longas mais que promissora de Laís Melo.

 

Quem dirige

Laís Melo é roteirista, diretora, diretora de arte e educadora popular em cinema. Seu curta-metragem autoral de estreia “Tentei”, foi premiado como melhor filme, fotografia e atuação no 50º Festival de Brasília. Além do seu segunda curta “Me deixei alí”, é codiretora na série “Cartas para o Futuro” para National Geographic. Como roteirista e diretora, “Nó” é seu primeiro longa-metragem, finalizado em 2024. Assina a direção de arte de vários longas, curtas-metragens, videoclipes e duas séries.