INÉDITO, “O BRASIL QUE NÃO HOUVE” TENTA MISTURAR DOCUMENTÁRIO E COMÉDIA.
Por Celso Sabadin.
Revisitar a obra do jornalista Aparício Torelli – popularmente conhecido como o Barão de Itararé – seria uma proposta das mais bem vindas no atual momento brasileiro. Afinal, com uma verve cômica insuperável e um texto inteligente e ferino, Torelli desmontava no antigo jornal “A Manha” (cujo título, por si só, já era uma desconstrução do então popular “A Manhã”) as intermináveis tontices dos governantes nacionais.
Assim, admito que estava bem curioso para ver “O Brasil que Não Houve – As Aventuras do Barão de Itararé no Reino de Getúlio Vargas”, documentário sobre o tema, que estreou no Festival do Rio. Talvez minha expectativa fosse otimista demais, o que acabou desaguando em decepção. Isto porque “O Brasil que não Houve – As Aventuras do Barão de Itararé no Reino de Getúlio Vargas” comete um pecado capital para documentários que abordam temas relacionados ao humor: tentar ser mais engraçado que o objeto documentado. Na verdade, o filme se autointitula como “documentário comédia”, o que particularmente me soa equivocado. Quando o documentarista abandona sua função de ser o condutor da trama para tentar se transformar na trama em si, os resultados nunca funcionam bem. Transpondo o raciocínio para a área do jornalismo, seria algo parecido com aquela velha história que sempre vemos nos telejornais: o repórter buscando ser maior que a notícia reportada. Tal inversão de valores é fatal para o produto final.
Neste sentido, “O Brasil que não Houve – As Aventuras do Barão de Itararé no Reino de Getúlio Vargas” se assemelha a um episódio do finado programa “Greg News”, mas com 1h10 de duração. E por mais que eu gostasse do “Greg News” (e eu gostava muito), tal formato acaba não sendo eficiente para um longa documental.
Percebe-se também em “O Brasil que não Houve – As Aventuras do Barão de Itararé no Reino de Getúlio Vargas” uma forte influência do seminal “Ilha das Flores”, no qual a digressão aparentemente aleatória de assuntos aliada à locução intermitente é utilizada com finalidades irônicas e sarcásticas, mas aqui sem o mesmo efeito. Por mais que eu goste do trabalho de Gregório Duvivier (e eu gosto muito), ele não é o Paulo José.
De qualquer maneira, o longa pode agradar a quem não estivesse na mesma expectativa que eu. Com direção do jornalista e cineasta Renato Terra e do escritor e roteirista Arnaldo Branco, o documentário pode ser visto no CurtaOn – Clube de Documentários, disponível no Prime Video Channels, da Amazon, na Claro TV+ e no site oficial da plataforma um dia após a estreia no canal. A estreia é no dia temático Sextas de História e Sociedade, 24 de outubro, às 22h.