“QUEBRADEIRAS” PROPÕE UMA VIAGEM SENSORIAL A UM BRASIL DESCONHECIDO.
O documentarista Evaldo Mocarzel é uma das figuras mais conhecidas da cena cinematográfica paulista e dos circuitos dos festivais nacionais. Esfuziante, falante e extremamente produtivo, Evaldo é a própria imagem da expansividade. Assim, pelo menos para quem o conhece, é no mínimo surpreendente o estilo de seu novo documentário, “Quebradeiras”. Trata-se de um filme introspectivo, contido e sem diálogos, verdadeira antítese de seu realizador.
Para realizá-lo, Evaldo tirou suas câmeras e suas lentes da sempre agitada capital paulista e as transportou para a região do chamado Bico do Papagaio, encontro dos estados do Maranhão, Tocantins e Pará que, no mapa, formam de fato o desenho de um bico de papagaio. Ali, encontrou um pedaço de mundo parado no tempo, sustentado ainda pelas tradições seculares das mulheres quebradeiras de coco de babaçu.
Filmou-as. E realizou este que é, a meu ver, o seu melhor filme até agora. É sempre bom fazer esta ressalva – “até agora” – porque a produção de Evaldo é rápida e incessante.
“Quebradeiras” é um mergulho cinematográfico no “planeta” destas mulheres. É um filme de imersão, para ser degustado lentamente, fotograma a fotograma, através das belíssimas imagens construídas por Evaldo e por seu diretor de fotografia Gustavo Hadba. Cada raio de luz conta, cada sombra vale, cada enquadramento encanta. Em “Quebradeiras”, o escuro da sala de cinema funciona como uma câmera de descompressão da ansiedade urbana que ficou lá fora. Somos transportados não apenas para um outro espaço mas também para um outro tempo, estranho para nós, fascinante, belo e reflexivo. Um espaço sem palavras onde os gestos e os olhares ganham dimensões maiores que a tela.
O filme documenta este patrimônio imaterial do nosso país, um patrimônio de tradições, de rituais e cantos das mais variadas influências. Com muita poesia. Neste filme, o diretor fez a mais feliz das opções: registrar, sem interferir. A realidade por si só já é bela o suficiente.
O filme ganhou os prêmios de Direção, Fotografia e Som no 42º Festival de Brasília, e o de Melhor Documentário no 22° Rencontres de Cinémas d’Amérique Latine de Toulouse, na França.