O QUESTIONAMENTO DAS UTOPIAS EM “VIDA SELVAGEM”.

Por Celso Sabadin.

É tensão da primeira à última cena. O diretor Cédric Kahn conseguiu transformar um drama familiar baseado em caso real num verdadeiro thriller com forte viés de crítica social. A partir da história verídica de Xavier Fortin, um homem que some do mapa carregando seus dois filhos para não perder a guarda dos garotos para a ex-esposa, o filme “Vida Selvagem” tem o grande mérito de investigar  o caso sem escorregar no melodrama e mantendo uma narrativa firme e forte em toda a sua estrutura.

O roteiro foi desenvolvido a partir do livro homônimo ao filme escrito a oito mãos pelo próprio Xavier Fortin e seus filhos Shahi´Yena e Okwari, com a colaboração da jornalista e escritora Laurence Vidal. E mais do que simplesmente focar a ação na disputa entre o casal, o filme abre espaço para o questionamento tanto das utopias das sociedades alternativas rurais, como da violência do momento atual. Paira a dúvida se o termo “vida selvagem” se aplicaria ao isolamento em que vivem pai e filhos, ou ao “mundo lá fora” que foi rechaçado pela pequena família. Talvez a ambos.

Não construir nem heróis nem vilões, optando por uma abordagem mais realista onde cabem simultaneamente as forças e as fraquezas de pessoas normais que erram e acertam movidas pelas suas convicções é outro mérito marcante do filme.

Com Mathieu Kassovitz (de “O Ódio” e “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”) no papel principal, “Vida Selvagem” ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de San Sebastian. Estreou em 19 de junho.