“O FORMIDÁVEL” RETRATA UM GODARD INTRANSIGENTE E MACHISTA.

Por Celso Sabadin.

“Godard é um saco!” Não são poucos os cinéfilos que pensam assim, da mesma forma que também não são poucos os que o consideram um gênio. O que ninguém duvida é que Godard é sinônimo de polêmica. Preferências cinematográficas à parte, Godard era considerado tanto um gênio como um saco por Anne Wiazemsky, sua primeira esposa, autora do livro “Um Après”, que deu origem ao filme “O Formidável”.

Roteirizado e dirigido por Michel Hazanavicius (o mesmo do premiadíssimo “O Artista”), o filme não é uma cinebiografia de Godard, preferindo enfocar o cineasta somente no período em que ele ficou casado com Anne. E que período! Foi justamente na época em que estavam juntos que estouraram os conflitos estudantis de maio de 68, que mudou os rumos socioculturais do mundo. Godard, em meio à toda efervescência da situação, é acometido de uma crise criativa: tentando ser fiel aos princípios revolucionários, ele renega tudo o que fez até então, e propõe um cinema sem roteiro, sem cenários, sem atores, sem dramaturgia… “e sem público”, completa um amigo. Não consegue, porém, colocar em prática suas ideias radicais, tornando-se cada vez mais amargo e violento, transformando a vida de Anne num inferno. Tudo isso, claro, de acordo com o ponto de vista de quem está contando a história.

Em tempos de polarização ideológica, voltar a maio de 68 reveste-se de uma inesperada contemporaneidade, o que é positivo para o filme. A discussão sobre um maoista defensor do proletariado (como o próprio protagonista de autointitula) que não tem contato algum com a classe trabalhadora que diz defender e – pior – que faz filmes que jamais serão apreendidos por esta mesma classe, não deixa de ter sua relevância ainda nos tempos atuais. Tempos que, inclusive, se arvoram de uma aura de empoderamento feminino, totalmente na contramão de um Godard sessentista que se mostra inseguro e opressor diante do sexto oposto.

Louis Garrel e Stacy Martin nos papéis principais dão conta de seus recados com galhardia num filme que – esteticamente – faz referência a alguns pares de firulas godardianas que ajudam a quebrar uma narrativa, a priori, convencional.

Selecionado para a competição oficial de Cannes, “O Formidável” estreou em 26 de outubro.

 

 

 

 

 

 

 

Paris 1967. Jean-Luc Godard, o mais influente cineasta de sua geração, está filmando ‘La Chinoise’ com a mulher que ama, Anne Wiazemsky, 20 anos mais jovem. Eles são felizes, atraentes, apaixonados e se casam. Mas a recepção do filme desencadeia uma profunda reflexão em Gordard.
Os eventos de maio de 68 vão amplificar esse processo, e a crise que abala o cineasta irá transformá-lo profundamente, de um cineasta superstar à um artista Maoísta inteiramente fora do sistema e incompreendido.