CONFLITOS FAMILIARES NO INTIMISTA “LESTE OESTE”.

Por Celso Sabadin.

Concebido e produzido em Londrina, “Leste Oeste” é um drama familiar que tem como pano de fundo competições automobilísticas ali realizadas. Muito provavelmente, esta rapidíssima definição do filme deve ter evocado em nossas mentes cinéfilas colonizadas pelo produto norte-americano alguma imagem relacionada aos aventurescos “Dias de Trovão”, “Grand Prix”, ou algo parecido. Não é por aí: o longa paranaense é hábil e criativo ao fazer justamente o contrário do convencional: contrapor o ritmo alucinante das competições automobilísticas à dura densidade de conflitos familiares mal resolvidos. É nesta bem-vinda ousadia estética e estilística que reside um dos maiores méritos de “Leste Oeste”.

Roteirizado e dirigido pelo premiadíssimo curta metragista Rodrigo Grota, o longa se centraliza em Ezequiel (Felipe Kannenberg), um ex-piloto que retorna à sua cidade natal após 15 anos de misteriosa ausência. Sua ideia é disputar uma “última corrida”, simbolismo dramatúrgico para a resolução de várias pendências afetivas deixada para trás. Entre elas, o relacionamento torto com o pai Ângelo (José Maschio) e as feridas abertas com o antigo amor Stela (Simone Iliescu). Porém, nem tudo é passado da trajetória de Ezequiel. O garoto Pedro  (Bruno Silva) entra em cena como um avatar de sua própria juventude e – talvez – como uma metáfora de uma segunda chance… ou da repetição de seus próprios erros.

A narrativa intimista e minimalista de “Leste Oeste” é sublinhada pela belíssima fotografia de Guilherme Gerais, habitual colaborador de Grota em seus filmes anteriores. O longa rendeu a Kannenberg e Iliescu os prêmios de atuação no Festival CinePE, de Pernambuco. Realizado há três anos, apenas agora se abre uma janela de exibição comercial para “Leste Oeste”. Coisas do complicado circuito cinematográfico brasileiro.