“TROCO TUDO”, COM HUMOR E ACIDEZ.

Por Celso Sabadin.

Uma das tradições mais caras do cinema produzido na Itália está representada nesta versão 2021 da Festa do Cinema Italiano, em cartaz – online – até o próximo dia 27 de junho: a comédia de costumes. O gênero dominou as telas do mundo nos anos do pós Segunda Guerra, estendendo-se com sucesso até a década de 1970, e se hoje os tempos mudaram e não temos mais um Totó, um Aldo Fabrizi ou um Mario Monicelli, pelo menos temos a continuidade do bom humor sarcástico que tanto marcou a produção cinematográfica daquele país.
Nesta Festa do Cinema Italiano 2021, um dos representantes do humor irônico urbano é “Troco Tudo”, de Guido Chiesa, diretor que já competiu duas vezes na mostra principal de Veneza, com “Il Partiggianno Johnny” (2000) e “Lavorare com Lentezza” (2004).

Aqui, a protagonista é Giulia (Valentina Lodovini), uma mulher romana que chega aos 40 anos à beira de um ataque de nervos: seu companheiro é um artista plástico acomodado que há anos pinta o mesmo quadro, seu chefe (publicitário, claro) só se preocupa com sua autoimagem e com as garotas mais novas da agência, e sua suposta melhor amiga da academia só tem um único assunto: ela própria. Sufocada pela pressão social de manter o emprego, o peso, a beleza, a produtividade e a sanidade mental Giulia só tem uma saída: e ela está no título do filme.

“Troco Tudo” é a apologia não apenas da libertação feminina, mas como da libertação pela verdade, pois Giulia só consegue romper as amarras da própria vida quando – motivada por um curandeiro supostamente charlatão – toma um remédio que não lhe permite mais mentir. Principalmente para si mesma. Obviamente tudo é levado em registro de comédia, o que não se constitui em impedimento para levantar questões mais importantes. Com destaque para a hilariante crítica a alguns influenciadores digitais, “com mais seguidores que neurônios”, no dizer da protagonista.

A programação completa da Festa do Cinema Italiano 2021 está em https://br.festadocinemaitaliano.com/