“12 ANOS DE ESCRAVIDÃO” NÂO CEDE AO MELODRAMA FÁCIL.

Ao abrir o site Imdb, a Bíblia virtual do cinema, na página do filme “12 Anos de Escravidão”, percebe-se em destaque a surpreendente informação: “Indicado para 9 Oscars. Veja aqui mais 99 prêmios e 143 indicações”. Isso ainda em janeiro.

Esta enxurrada de láureas, se por um lado joga todas as luzes sobre o filme, por outro lado pode gerar no espectador uma expectativa desproporcional às próprias qualidades do trabalho. O melhor a fazer é ir ao cinema sem a preocupação excessiva com premiações e demais ferramentas de marketing, e apreciar de olhos e ouvidos bem abertos mais esta instigante obra do cineasta inglês Steve McQueen, o mesmo do não menos instigante “Shame”.

O roteiro de John Ridley adapta o livro “12 Years a Slave”, escrito no século 19 por Solomon Northup, o próprio protagonista desta história real. Ele era um negro alforriado, violinista profissional e pai de família, que teve sua vida radicalmente alterada ao ser sequestrado e vendido como escravo, no interior dos Estados Unidos. De acordo com o livro, a prática de sequestrar negros libertos e adulterar suas identidades para vendê-los como escravos era comum. E Northup foi um dos únicos que conseguiu contar sua história.

Um dos maiores méritos do filme está em não sucumbir às fórmulas tradicionais e melodramáticas que o tema facilmente proporcionaria. McQueen não é um cineasta de formulações convencionais. Ele opta por uma narrativa mais crua, de pouca ou nenhuma firula estética, presenteando o espectador, em algumas oportunidades, com planos longos e dolorosos que acentuam a dramaticidade da situação. Sem apelar para o sentimentalismo superficial.
Um momento em particular já pode ser considerado antológico: a solidão silenciosa do protagonista jogado à própria sorte num “quase enforcamento” onde poucos centímetros separam a ponta de seus pés da morte.

Porém, mais até que seu roteiro, o que mais encanta e angustia em “12 Anos de Escravidão” é a sua trilha sonora. Na contramão das insuportáveis músicas onipresentes que infestam os blockbusters, McQueen optou por grandes momentos de silêncio e por cortantes efeitos sonoros que tiram o espectador da sua zona de conforto, atirando-os na dor e na indignação vividas pelo protagonista.

Michael Fassbender e Brad Pitt atuam como eficientes coadjuvantes do inglês filho de nigerianos Chiwetel Ejiofor, que estreou no cinema em “Amistad”, de Spielberg.