“1798 – REVOLTA DOS BÚZIOS” E O APAGAMENTO DA HISTÓRIA.

Por Celso Sabadin.

Charles Pathé, pioneiro histórico da sétima arte, teria dito que o cinema seria a escola do amanhã. A previsão não chegou a tanto, mas quando a gente se lembra da quantidade de temas que nos foram ensinados na sala escuta, e que mal passaram perto dos nossos bancos escolares, começamos a ver a ideia de Pathé com mais atenção.

Um recente exemplo desta questão é o filme “1798 – Revolta dos Búzios”, entrando em cartaz em cinemas selecionados nesta quinta-feira, 23/05. A tal revolta que dá nome ao filme é conhecida também por outros nomes: Revolução dos Alfaiates, Conjuração Baiana, Sedição de 1798, Movimento Democrático Baiano e Inconfidência Baiana.

Trata-se de um levante ocorrido na Bahia que pretendia derrubar o governo colonial, proclamar a independência do estado, e implantar uma República democrática, livre da escravidão, onde haveria, conforme acenavam, “igualdade entre os homens pretos, pardos e brancos”.

Nem preciso dizer, né? Conspirações raciais não são bem vistas pelo nosso ensino claudicante de História do Brasil, daí o amplo desconhecimento geral do assunto.

Com roteiro e direção do cineasta e pesquisador baiano Antonio Olavo, “1798 – Revolta dos Búzios” padece da dificuldade quase intransponível da falta de material iconográfico da época, para quem se disponha a fazer um documentário. Na tentativa de superar esta questão, o cineasta foi em busca da precisão histórica dos “Autos da Devassa”, um documento com mais de 2.000 páginas manuscritas no calor da hora com o desdobramento minucioso da grande investigação sobre os acontecimentos. Eles cobrem um período de agosto/1798 a novembro/1799, e são transcrições de dezenas de sessões da Devassa, incluindo a íntegra dos longos depoimentos de mais de 70 pessoas envolvidas na conspiração.
O projeto inteiro levou mais de 13 anos.

Neste sentido, lembra o que Joaquim Pedro de Andrade fez em seu longa “Os Inconfidentes”, com tema e dificuldades similares.

Assim, “1798 – Revolta dos Búzios” acaba se assemelhando mais a uma vídeo aula poética que propriamente a um documentário, o que não tira a importância deste regate histórico audiovisual, principalmente nestes tempos em que todos parecem buscar reescrever à história a seu bel prazer.

O longa entra em cartaz em cinemas de Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Quem é o diretor Antonio Olavo

Cineasta e pesquisador, trabalha com temas ligados à valorização da memória negra. É autor do livro “Memórias Fotográficas de Canudos'” (1989) e gestor da Portfolium Laboratório de Imagens, produtora pela qual dirigiu 19 filmes documentários, entre os quais sete longas-metragens: “Paixão e Guerra no Sertão de Canudos” (1993); “Quilombos da Bahia’ (2004); ‘Abdias Nascimento Memória Negra” (2008); “A Cor do Trabalho” (2014); “1798 – Revolta dos Búzios”; “Quilombo Candeal – Roda de Versos na Boca da Noite” (2021) e “Ave Canudos! Os que sobreviveram te saúdam” (2021). Dirigiu também uma série para TV denominada “Travessias Negras” (2017) e atualmente está finalizando o filme “A Protetora – Memória Negra da Bahia”.