“1958 – O ANO EM QUE O MUNDO DESCOBRIU O BRASIL” DOCUMENTA A COPA DO MUNDO MAS ESQUECE DE PELÉ.

Ao perder drasticamente a Copa do Mundo de 1950 para o Uruguai, em pleno Maracanã lotado, instalou-se no povo brasileiro um sentimento de profunda depressão coletiva, de péssima auto-estima, que Nelson Rodrigues sabiamente classificou como “complexo de vira-latas”. Oito anos depois, o nascimento da Bossa Nova, os planos desenvolvimentistas do presidente Juscelino e – claro – a histórica conquista de nossa primeira Copa do Mundo, vieram lavar a alma do brasileiro, espantando – pelo menos em parte – a tal síndrome.

O documentário “1958 – O Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil” se propõe a revisitar este ano histórico principalmente sob o prisma do futebol. JK e Bossa Nova são apenas citados “em passant” neste filme que prefere direcionar suas lentes sobre a histórica conquista. Porém, ainda que com bom ritmo, produção correta e imagens históricas sempre fascinantes, “1958” não traz nenhum novo ângulo a esta história tão contada e recontada. Sim, é sempre bom rever as estrepolias de Garrincha, o golaço de Pelé na final contra a Suécia, Bellini levantando a taça… mas haverá público disposto a pagar um ingresso nos cinemas para (re)ver imagens que todo e qualquer canal de esportes já se exauriu de reprisar?

Também é mérito do filme dar voz aos derrotados, com depoimentos coletados juntos aos atletas que caíram diante da seleção brasileira, naquele ano. Entre eles, Just Fontaine (o artilheiro da Copa de 58), e Helmut Senekowitsch (ex-jogador austríaco). Mas o que dizer da ausência de Pelé? Por que o craque maior daquela vitória não foi ouvido pelo filme? As respostas podem ser as mais variadas possíveis, mas nenhuma dela será satisfatória. Afinal, fazer um documentário de cinema sobre a Copa de 1958 sem nenhum depoimento de Pelé é o mesmo que ir a Milão e não ver Kaká. (Ora, danem-se Roma e o Papa!).