“22 MILHAS”, A APOLOGIA DO CINEMA DE DIREITA.

Por Celso Sabadin.

A Era Trump é o terreno ideal para a proliferação dos novos filmes de direita, ou seja, aqueles que validam a tal “justiça com as próprias mãos”, pregam a descrença total contra mecanismos de Estado que ousem se dizer capaz de conter o crime (FBI, CIA, Polícia, Governo, instituições em geral são sempre mostradas como patetas), e elevam à condição de herói o protagonista que se mostrar o mais letal entre todos. Obviamente, são filmes que deixam bem explícita a apologia à violência e ao armamentismo desenfreado, ao mesmo tempo em que pintam com cores nada sutis a predominância do norte-americano sobre qualquer outro povo e qualquer outra cultura que possa existir sobre a face da Terra. Que, pelo menos até agora, não foi retratada no cinema como plana. Que eu saiba.

Não se trata exatamente de uma novidade, posto que tal naipe de produção fez sucesso estrondoso em outro momento de ascensão fascista, mais precisamente nos anos 1980, quando predominou, no cinema e na Casa Branca, a força bruta sobre o pensamento. A diferença, hoje, é o grau de violência explícita, que aumenta em proporções geométricas em relação à Era Rambo.

Um recente exemplo de filme-porrada sintonizado com a atual truculência política é “22 Milhas” (2018), o novo fruto da parceria entre Mark Wahlberg e o diretor Peter Berg, após “O Grande Herói” (2013), “O Dia do Atentado” (2016) e “Horizonte Profundo – Desastre no Golfo” (2016). Desta vez Wahlberg vive James Silva, agente de uma unidade super secreta do governo norte-americano que – segundo já adianta a própria publicidade do filme – é acionada em casos que nem a diplomacia, nem o exército conseguiu resolver. Ou seja, como o tal comando não existe oficialmente, ele pode tudo, a qualquer hora, em qualquer lugar, acima de qualquer lei nacional e internacional, com o maior grau possível de violência. Do jeitinho que os fascistas gostam.

Para piorar a situação, Silva é mentalmente desequilibrado. Hiperativo, encrenqueiro, repleto de traumas de infância, sem autocontrole, violento, bolsominion (essa informação não está no filme; é só uma conclusão minha), cruel com os próprios colegas de trabalho, insubordinado, fala sem parar, raivoso, enfim… É ele quem vai comandar uma operação que tentará resgatar um carregamento perdido de Césio que poderá destruir o mundo. Mas isso é o de menos, dentro do filme. Mesmo porque a porradaria é tanta, a linguagem de videogame é tamanha, que lá pela metade da projeção a gente até esqueceu porque todos estão brigando tanto.

Coproduzido por Estados Unidos, Colômbia e China, “22 Milhas”, assim como seu protagonista, precisa ser estudad