“23 ANOS EM 7 SEGUNDOS” É O TIMÃO DE NOVO NA TELONA.

Conversando outro dia com meu amigo, colega de crítica e emérito santista Luiz Zanin, ele me perguntou se eu, como Corinthiano, não achava que estaria havendo uma “overdose” de filmes sobre o Corinthians. Evidentemente, também como Corinthiano, eu só pude responder que nunca haverá uma overdose se o assunto é o Corinthians. Ao que Zanin me respondeu que, na verdade, eu não teria senso crítico para analisar esta questão. No que ele tem toda razão. Não é possível ter senso crítico e ser Corinthiano numa mesma encarnação. No céu, se escolhe: ou um, ou outro.

Toda esta divagação foi motivada pelo lançamento do filme “23 Anos em 7 Segundos”, belíssimo documentário que narra a via crucis pela qual passou o Sport Club Corinthians Paulista entre 1954 e 1977, período de total estiagem de títulos, de qualquer campeonato, em qualquer categoria. Período também em que – paradoxalmente – a torcida alvi negra cresceu e se tornou ainda mais fanática.

Partindo do pressuposto que seja possível dissociar a função de crítico de cinema com a divina condição de ser Corinthiano (ainda que esta possibilidade inexista), tentarei falar do filme com o coração isento, analisando a obra apenas sob seu aspecto cinematográfico, apesar das lágrimas que teimam em me nublam os olhos, cada vez que recordo uma cena especial.

Os cineastas Di Moretti (roteirista de mão cheia, estreando agora na direção) e Julio Xavier conseguiram realizar um filme que une grande apelo emocional a uma excelente profusão de informações e fantástico material de arquivo. São exibidos históricos momentos da decisão de 1954 (disputada na verdade no início de 1955) e da própria capital paulistana, na época, registram-se com emoção a famosa “invasão” do Maracanã, passeia-se por divertidíssimos depoimentos de Corinthianos históricos, até desembocar na inesquecível final contra a Ponte Preta, ponto final do jejum.

Tudo com uma montagem primorosa, que contrapõe depoimentos (conflitantes ou não) de várias personalidades ligadas ao Cortinthians, ex-jogadores, jornalistas e torcedores, com direito a uma “bobeada” inédita de Vicente Matheus, que certa vez confundiu “vitiligo” com “logotipo”, no confessar da viúva emocionada. Juca Kfouri leva a platéia às lagrimas ao contar como o campeonato foi conquistado pela força – inadvertida – do filho do técnico Oswaldo Brandão. O bonachão Neto leva o público às gargalhadas com seu jeito deliciosamente caipirão e sincero. O herói Basílio desaba de chorar ao lembrar da mãe. Wladimir mal consegue falar de tanto rir. E é assim, entre emoções incontidas, que o filme mostra – várias e várias vezes – o momento do gol decisivo.

Não seria demais? Volto a repetir o que disse a Zanin: se o assunto é Corinthians, nunca é demais.

Mesmo porque a diretoria alvinegra promete novas produções sobre o tetra brasileiro, o mundial de 2000 e sobre o centenário do clube, ano que vem.

Se os torcedores dos outros times se emocionarão ao ver o filme? Com certeza sim. Afinal, inveja também não é uma emoção?