“3 FACES” MARCA A VOLTA DO VERDADEIRO CINEMA IRANIANO.

Por Celso Sabadin.

Depois que o ocidente “abraçou” o cinema iraniano, principalmente através dos filmes do oscarizável Asghar Farhadi, a produção audiovisual daquele país ocidentalizou-se, perdeu sua poesia original, e nunca mais foi a mesma. Pelo menos a produção que chega até nós. Assim, é mais do que gratificante ver a estreia de “Três Faces”, uma bem-vinda mostra do verdadeiro cinema iraniano, sensível, misterioso, com seus tempos próprios, ímpar e inconfundível nestes nossos tempos de globalização e nivelação da estética mundial ao gosto médio da população.

Não por acaso, o roteiro, a direção e até a interpretação são do grande Jafar Panahi, o mesmo de “Balão Branco”, “O Círculo”, “O Espelho” e outros clássicos da fase de ouro do cinema do Irã.

Como sempre misturando com maestria o documental e o ficcional, Panahi mostra em “3 Faces” o desespero da atriz

Behnaz Jafari (interpretando a si própria) ao receber um vídeo de uma garota que supostamente se suicida, deprimida por jamais ter recebido nenhuma resposta aos pedidos que fez a Behnaz. Perturbada, a atriz e seu amigo diretor (o próprio Panahi) seguem em viagem ao interior do país, na tentativa de verificar a veracidade do vídeo e, consequentemente, do suicídio. No tenso percurso, ambos se deparam com um Irã divido em seus idiomas e costumes, sentem de perto o peso, a magia e também o desprezo da fama, além de derraparem nos caminhos de suas próprias convicções. Tudo isso com as longas tomadas contemplativas, o clima de mistério e as charadescas elipses do cinema iraniano que estavam fazendo bastante falta no nosso combalido circuito cinematográfico.

Premiado como melhor roteiro em Cannes, “3 Faces” é uma produção totalmente iraniana (desta vez sem a coprodução dos franceses, ufa..!), e marca o quarto filme realizado por Panahi após seu banimento oficial. Lembrando que o cineasta, opositor do atual presidente do Irã, teve sua casa invadida e sua obra  recolhida como represália ao seu posicionamento político. Nos últimos 20 anos, tem sido ferozmente perseguido pelo governo e proibido de filmar, o que acaba fazendo de maneira clandestina, e com o apoio de organizações internacionais.