“300: A ASCENSÃO DO IMPÉRIO”: PENSE NUM VIDEOGAME COM ÁUDIO DESCRIÇÃO.

Será preciso vencer algumas barreiras para curtir “300: A Ascensão do Império”. Talvez a primeira delas seja passar por cima da incômoda sensação de estar o tempo todo vendo um imenso game de exageradas imagens virtuais, e não exatamente um filme. Depois, ignorar o 3D, que aqui definitivamente não funcionou. Numa terceira etapa, também será necessário fechar os olhos para as interpretações e diálogos histriônicos, que remetem aos velhos épicos dos anos 50, onde todo mundo falava com se estivesse salvando a Humanidade. Para curtir o filme, também tente não se importar com o excesso da utilização daquele efeito visual do tipo “Supercâmera”, que passa nos canais pagos da TV. Duas ou três tomadas de “Supercâmera”, tudo bem, mas o tempo todo cansa um pouco. Como cansa, e muito, a exagerada trilha sonora, com suas percussões pra lá de excessivas.

Tem mais? Tem: alguém me explica por que ficam passando fagulhas, penugens, poeirinhas, luzinhas e fumacinhas o tempo todo pela tela? Fiquei com a impressão que a qualquer momento iria aparecer a Sininho com seu pó de pirlimpimpim para enfeitiçar o Temístocles.
Mas provavelmente o mais difícil de engolir – a exemplo do que já aconteceu no primeiro episódio – é o viés de propaganda política pró-belicismo que o filme carrega. Mais de uma vez, os heróis “gregos” da história se dizem os arautos da liberdade e democracia, em luta justamente contra quem? A Pérsia, ou seja, o atual Irã. Desta vez, pasmem, o filme insere até um homem bomba em seu roteiro, para mostrar como os “persas” são cruéis e traiçoeiros, e precisam ser dizimados. Impossível deixar de notar também o momento onde uma das batalhas é vencida graças à utilização do petróleo. É a velha patriotada de sempre.

Como entretenimento puro e simples, “300: A Ascensão do Império” demora a engrenar, principalmente em função de uma interminável narração em off que tenta colocar o público a par da situação da guerra, ao mesmo tempo em que busca fazer a ponte com o primeiro filme. O blá-blá-blá é tamanho que por alguns instantes pensei ter entrado numa daquelas sessões que oferece áudio-descrição para deficientes visuais.

Superados todos estes percalços, pode-se, finalmente, acompanhar a trama, que acontece antes dos fatos que vemos no primeiro filme, ou seja, a violenta guerra de Xerxes (Rodrigo Santoro) e Artemísia (Eva Green) contra Temístocles (Sullivan Stapleton). Ficamos sabendo o que motivou a incontida ira dos persas contra Atenas, e o que foi uma das mais importantes guerras do mundo antigo é aqui reduzida a uma mera questão de vingança familiar.
Tentando sensibilizar um pouco do público feminino neste filme inundado de testosterona, o roteiro desta vez dá mais destaque às mulheres.

Com muito mais problemas que méritos, percebe-se por que a distribuidora solicitou à imprensa que publicasse suas críticas somente a partir de 5 de março, apenas dois dias antes da estreia do filme.