“4 X 100 – CORRENDO POR UM SONHO” É O BRASIL FAZENDO FILME NORTE-AMERICANO.  

Por Celso Sabadin.

“4 x 100 – Correndo por um Sonho” conta a história fictícia de um time brasileiro feminino de natação que sofre uma derrota fragorosa nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, e se prepara para tentar compensar o fracasso nas Olimpíadas de Tóquio, em 2020. Em 2020? Mas em 2020 as Olimpíadas de Tóquio foram adiadas, por causa da pandemia. Sem problemas: um letreiro logo no início do filme informa que é tudo ficção. O projeto já estava em andamento quando houve o adiamento.

O interessante é notar que tanto a direção de Tomas Portella como o argumento e o roteiro de L.G. Bayão, Caroline Fioratti,  Mauro Lima, do próprio Tomas Portella, Juliana Soares e Carlos Cortez (falecido em dezembro de 2018, e a quem o filme é dedicado) é um enorme simulacro de várias produções estadunidenses sobre competições esportivas que já nos acostumamos a ver. Está tudo lá, sem tirar, nem por: a pressão insuportável pela vitória, as disputas internas entre alguns elementos do time (que serão resolvidas, claro), a mistura de ternura e agressividade do técnico, os desequilíbrios entre atletas jovens e veteranas, os dramas pessoais de cada atleta, os arcos dramáticos, twist plots, tudinho cronometrado dentro da cartilha de Syd Field e seguidores.

Aí vem a pergunta: é um erro imitar assim tão abertamente o cinema feito pelos EUA? Depende de quem vê o filme. Particularmente, é um tipo de obra que, pela previsibilidade e falta de ousadia, não me satisfaz enquanto arte e cinema. Porém, o objetivo da busca insana pela bilheteria (mesmo porque a produção é da Gullane e da Globo Filmes) é claro e honesto: vê quem quer, curte quem tem outras expectativas em relação a cinema. Mesmo porque é tudo muito bem produzido, e as atuações de todo o elenco (Roberta Alonso, Thalita Carauta, Fernanda de Freitas, Augusto Madeira, Zezé Motta, Cintia Rosa, Priscila Steinman) são dignas de todos os elogios.

Apenas os créditos iniciais me causaram estranheza: desde os antigos filmes norte-americanos dos anos 1930 e 40 – momento em que os estúdios eram absolutamente soberanos sobre suas obras – eu me lembro de ter visto longas sem o crédito do diretor, mantendo apenas os dos produtores. Em “4 x 100” acontece o mesmo: todos os créditos surgem no início, e o do diretor, só no final.