“EVA NÃO DORME” E A HISTÓRIA QUE JAMAIS TERMINA.

Por Celso Sabadin

A partir do caso real do desaparecimento do corpo de Eva Perón, o roteirista e diretor Pablo Aguero desenvolve “Eva Não Dorme”, reconstituição ficcional onde os fatos se misturam aos boatos e onde a política se une ao macabro e ao horror. Ou, aos horrores.

“Eva Não Dorme” se utiliza com talento e eficiência de recursos cênicos teatrais de luzes e sombras aliados a fortes imagens documentais que mostram Eva Perón em todo o seu esplendor. Claramente a proposta aqui não é criar uma reconstituição estética, realística e/ou hollywoodiana dos acontecimentos, mas sim verificar os inacreditáveis limites extremos que foram atingidos na luta pela posse e manipulação do icônico cadáver. Troféu mórbido de extremo impacto político, o corpo de Eva Perón, embalsamado, vira arma nas mãos dos militares golpistas e peça de resistência para os peronistas. Transforma-se no símbolo morto de uma luta ideológica que – como diz o próprio filme – jamais terá fim ao contrapor a situação humana às exigências do mercado internacional.

Perturbador ao contar o episódio pela visão dos militares, o filme reveste-se, neste momento, de uma inquietante aura de atualidade ao rever mais este capítulo de um longo histórico de truculências e desmandos que – infelizmente – conhecemos tão bem.

“Eva Não Dorme” foi um dos preferidos da imprensa argentina em 2015, tendo recebido 10 indicações ao prêmio da Associação dos Críticos, e ganho quatro deles, incluindo melhor direção. A estreia no Brasil é em 3 de agosto.