A AGRADÁVEL SURPRESA DE VER “ENTRE ABELHAS”.

Por Celso Sabadin

Foi uma surpresa das mais agradáveis! Ver Fábio Porchat, conhecido nacionalmente pela sua veia cômica, fugir da zona de conforto, resistir ao lugar comum, e fazer um filme diferenciado, com roteiro inteligente, sem a preocupação de conquistar  bilheteria a qualquer custo, é prova que a espécie humana ainda tem salvação.

Antes de mais nada, para evitar frustrações, é bom dizer: “Entre Abelhas” não é uma comédia. Trata-se de uma fábula com toques dramáticos, irônicos e existencialistas sobre um rapaz que aos poucos começa a não enxergar as pessoas. E é melhor não dizer mais nada, para não estragar surpresas.

Num primeiro momento, teme-se que o roteiro sucumba da síndrome do filme de uma ideia só, daquelas que deixa o longa metragem com cara de curta esticado. Isso não acontece. Depois, a gente começa a achar que o roteirista não vai conseguir terminar a ideia de forma tão brilhante como começou. O que também não acontece. Pelo contrário: com boa utilização de situações complementares e atores coadjuvantes, ideias num crescendo e resolução simbólico-poética, “Entre Abelhas” não perde o fôlego, entrega até mais do que promete, e ainda provoca uma oportuna reflexão sobre o desenvolvimento torto que as relações humanas têm experimentado nos últimos anos.

O próprio Porchat, corroteirista do filme, diz que teve a ideia deste argumento há mais de dez anos, e que só agora, junto com o amigo e cineasta Ian Samarão Brandão Fernandes (que assina Ian SBF) conseguiu realizar o sonho de transpô-lo para a tela. Valeu a espera. “Entre Abelhas” situa-se numa faixa do cinema brasileiro muito necessária para o desenvolvimento da nossa indústria áudio visual, qual seja, aquela que abraça filmes médios, que podem ser vistos por um público dos mais abrangentes, que fogem tanto da comédia escrachada sem qualidade como da hermeticidade por vezes exacerbada de alguns trabalhos autorais.

E como se tudo isso não bastasse, ainda tem uma (outra?) atuação soberba de Irene Ravache. Precisa mais?