A AMIZADE INCONDICIONAL É O TEMA DE “GOODBYE SOLO”.

Pequenos dramas humanos dirigidos com simplicidade e talento podem render grandes filmes. Prova disso é o sensível “Goodye Solo”, vencedor do prêmio da crítica internacional no Festival de Veneza de 2008.
O Solo do título é o apelido do taxista Souleyname (vivido por Souleymane Sy Savane), rapaz senegalês que trabalha nos EUA e tem como um de seus principais clientes fixos o rabugento e irascível William (Red West).
Um é o oposto do outro. Solo é alegre, apaixonado pela vida, estuda para mudar de profissão, tem planos, esposa, enteada, uma camiseta escrito “Grécia” e o desejo de um dia conhecer Macchu Picchu. Por outro lado, William é fechado, depressivo, solitário, não fala com ninguém, e sua única diversão parecer ser ir regularmente ao cinema. Parece. Irônico: o verdadeiro “solo” da trama é William. A quem efetivamente se refere o “Goodbye” do título?

De qualquer maneira, logo nos primeiros momentos de projeção ficamos sabendo que – ao que tudo indica – William pretende se suicidar. E para isso vai precisar da ajuda do taxista. Tem início neste instante uma luta solitária de Solo para tentar dissuadir o amigo da ideia. Uma luta de mão única, já que William não baixa a guarda, não abre seu coração, e não está disposto sequer a tocar no assunto. William passa a ser uma verdadeira obsessão para Solo, que não vai medir esforços para externar toda a sua amizade incondicional (e, novamente, de mão única) para tentar salvá-lo. Mas William quer ser salvo?

“Goodbye Solo” segue o estilo que pode ser chamado de “slice of life”, ou “fatia da vida”. Isto é, para os paladares menos acostumados, dá a impressão que o projecionista se esqueceu de passar o primeiro e o último rolo do filme. Começa e acaba de repente, sem muitas explicações, sem fechar tudo o que abriu, sem se preocupar demasiadamente com a origem nem com o destino final dos personagens. O que é maravilhoso, pois coloca o espectador dentro da trama, tornando-o quase um co-autor de uma obra inacabada. Nada daquelas cansativas relações causa/efeito das fórmulas comerciais, onde tudo precisa ser detalhadamente justificado. A emoção fala mais forte. A construção dos personagens é primorosa, o envolvimento emocional é praticamente imediato, e a crescente carga de suspense é das mais eficientes para levar o público na ponta dos dedos, até o seu final.

Um belo trabalho do roteirista e diretor Ramin Bahrani que, a despeito do nome, é nascido e criado nos EUA.