“A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS” E A IMOBILIDADE DE UMA GERAÇÃO.
Por Celso Sabadin.
Produtoras de nada menos que sete países se reuniram para viabilizar o premiado drama “A Árvore dos Frutos Selvagens”: Turquia, Macedônia, França, Alemanha, Bósnia-Herzegovina, Bulgária e Suécia. Valeu a pena: dentro de um ritmo todo próprio, que não faz concessões ao cinemão comercial, o longa é uma bela reflexão sobre o desencanto e as perspectivas cada vez mais limitadas da vida atual.
Toda a linha narrativa se apoia na figura central de Sinan (Dogu Demirkol, em seu segundo filme), jovem aspirante a escritor que acaba de se formar em Letras e retorna à sua cidade natal, a bonita Çanakkale. Assim que desembarca, Sinan logo toma contato com a mediocridade da rotina que havia deixado para trás: o pai (Murat Cemcir), viciado em jogo, continua deixando dívidas por onde passa, enquanto a mãe (Bennu Yildirimlar) tenta fugir da realidade via telenovelas.
Restam dois caminhos ao jovem em busca da realização profissional: passar num concurso para professor ou publicar seu inédito manuscrito. Caso nenhuma das opções vingue, a saída para a sobrevivência é terrível: ingressar na carreira militar, como alguns de seus colegas já fizeram.
A imobilidade social, o desemprego, o tédio, a decadência de uma Turquia (que pode ser estendida para vários outros países) encalacrada em pensamentos engessados e pré-concebidos, tudo contribui para o crescente desespero do protagonista. Sua própria cidade, por exemplo, por estar situada na proximidade de dois grandes fatos históricos (a guerra de Troia e a batalha de Gallipoli), não aceita que ele publique um livro que não seja promocional e/ou turístico da região.
A direção de Nuri Bilge Ceylan é intimista e poética. Longos planos tomados sem pressa privilegiam a reflexão e sublinham o mundo monocórdico de Sinan.
Os filmes anteriores de Ceylan, “Sono de Inverno”, “Era uma Vez na Anatólia”, “3 Macacos” e “Climas”, entre outros, lhe proporcionaram cerca de 150 prêmios e indicações. “A Árvore dos Frutos Selvagens” foi o grande vencedor do Siyad, o maior prêmio do cinema turco, tendo recebido dez indicações, oito delas contempladas.
Com três horas de duração, o filme exige disponibilidade e concentração, mas premia com louvor seus espectadores.