“A BALEIA”, MÓRBIDA CURIOSIDADE.

Por Celso Sabadin.

No documentário “Marcello Mastroianni: Mi Ricordo, Sì, Io Mi Ricordo”, o grande astro italiano diz que um de seus sonhos é interpretar uma pessoa com deficiência auditiva, que também não fale, e que esteja numa cadeira de rodas. Ferino, Mastroianni argumenta: “Assim, talvez eu ganhe três Oscar, um por estar em cadeira de rodas, outro por ser surdo e outro por ser mudo. A crítica é muito sensível a esse tipo de infelicidade.”

Lembrei deste pensamento irônico de Mastroianni ao ver “A Baleia”, filme que chega aos cinemas logo depois do Carnaval, mas que o público de algumas cidades poderá assistir, em pré-estreias, já a partir de hoje, 16/02.

O roteiro do premiado dramaturgo Samuel D. Hunter, a partir de sua própria peça teatral, mostra o sofrimento de Charlie (Brendan Fraser), um professor consumido por uma enorme depressão, tão gigantesca quanto seu próprio peso. Uma tragédia pessoal o levou a um doentio processo de engorda, que o confina aos limites de seu apartamento, na mesma proporção que sua condição psicológica impossibilita qualquer eventual capacidade de reversão de sua vida. Ou seja, a imobilidade de Charlie é tanto física quanto emocional.

E onde entra Marcello Mastroianni nisso tudo? No fator “espetacularização bizarra”, ou “mórbida curiosidade”, quesitos tão queridos à indústria do entretenimento. A observação sarcástica do ator italiano, imaginando receber um Oscar para cada impossibilidade física, é ao mesmo tempo divertida e real, e remete diretamente a Fraser e seu personagem. Em outras palavras, “A Baleia” seria um filme tão valorizado pelas premiações mundiais, não fosse pela trágica bizarrice física de seu protagonista? Brendan Fraser merece efetivamente a indicação ao Oscar pela sua atuação, ou ele está sendo observado na tela com o mesmo olhar doentio de quem estica o pescoço para fora da janela do carro para ver um acidente de trânsito e dizer “que horror!”.

Dramatúrgica e cinematograficamente, o longa capta minha admiração de forma apenas mediana. São explícitas as suas raízes teatrais, e frágeis as construções e resoluções de seus conflitos. A direção do sempre cult Darren Aronofsky (o mesmo de “Réquiem para um Sonho”, “O Cisne Negro” e “Noé”, etc.) é coerente com as tendências sempre exageradas e invariavelmente maneiristas de seus trabalhos anteriores.

Além de Fraser, “A Baleia” também recebeu as indicações para maquiagem (óbvio) e atriz coadjuvante para a tailandesa Hong Chau.