A Bela do Palco

Ninguém melhor que os ingleses para produzir filmes sobre o teatro. Aqui, eles se unem a produtores americanos (Robert De Niro entre eles) e alemães para filmar o delicioso A Bela do Palco, mistura de romance, comédia e drama ambientada no século 17. Na época, por incrível que pareça, a Inglaterra proibia que as mulheres fossem atrizes, e todos os papéis femininos nas peças de teatro eram interpretados por homens. Entre eles, um dos mais famosos e respeitados era Edward Kynaston (Billy Crudup, de Peixe Grande e Quase Famosos), um mestre na arte de viver papéis femininos. Uma de suas maiores admiradoras é sua própria camareira, Maria (Claire Danes num de seus melhores momentos no cinema), que secretamente nutre o desejo de se tornar uma grande atriz. Um dia. Ela só não esperava que este dia poderia chegar muito em breve, já que o Rei Charles II (Rupert Everett) está prestes a ouvir os conselhos de sua amante e abolir a lei anti-mulheres nos palcos. A “novidade” poderá causar invejas e traições, destruindo carreiras sólidas e revelando novos talentos. O teatro inglês jamais seria o mesmo.
Muitas vezes os filmes de época britânicos pecam por um certo exagero de pompas e solenidades (típicas de toda uma cultura, é verdade) que acabam se tornando um pouco enfadonhas. Este não é o caso de A Bela do Palco. O filme flui com agilidade e graça, fruto de um roteiro enxuto (escrito por Jeffrey Hatcher, a partir de sua própria peça teatral) interpretado por um elenco dos mais eficientes. A direção de Richard Eyre (do premiado Íris) sabe mesclar o antigo com o moderno, optando por um ritmo bem cadenciado e por um estilo de montagem ágil e dinâmico, sem “tirar” o público do século 17.
Nos cinemas dos EUA, A Bela do Palco teve um lançamento dos mais modestos, mas aos poucos foi encontrando seu público: estreou em míseras três salas, passando, nas semanas seguintes, para 21, 59, 70 e 78. Obviamente nunca chegou a ser um blockbuster (nem era esta a proposta), mas provou que sempre existe público de bom gosto, disposto a ver uma bela história de amores e invejas.