A BUSCA DA AUTO-IMAGEM NO PERTURBADOR “NA PRISÃO EVIN”.

Por Celso Sabadin.

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo oferece este tipo de oportunidade: assistir a um filme inteirinho no qual a protagonista nunca é mostrada. Trata-se do iraniano “Na Prisão Evin”, que mostra, ou melhor, que aborda o drama de Amen, mulher transgênero que deseja fazer uma cirurgia de redesignação sexual, mas não tem o dinheiro suficiente.

A oportunidade de conseguir seu objetivo surge através de Naser (Mahdi Pakdel), um misterioso milionário disposto a pagar a operação de Amen, desde que ela lhe conceda um estranho favor. Descobrir qual será este favor é apenas a primeira das várias e intrigantes charadas que o filme nos propõe, e que serão habilmente solucionadas durante o transcorrer da trama.

Não mostrar jamais a protagonista não é simplesmente um balangandã formalista feito para ser diferentão e ganhar espaço na mídia e nos júris dos festivais (como tem acontecido muito, aliás). Pelo contrário: tal recurso estilístico alinha-se com a desesperada dramaticidade de Amen em sua jornada pela busca de sua própria imagem, de seu autoconhecimento enquanto mulher à procura do necessário respeito humano.

Tampouco sem a pretensão de sustentar o filme, o recurso é utilizado de forma coerente e engenhosa, sem se sobrepor ao que de fato mais importa que é a dramaturgia. Em uma palavra, genial.

Com roteiro e direção da dupla Mehdi Torab-Beig e Torab-Beig, –  – estreantes em longas-metragens –  “Na Prisão Evin” está na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em cartaz até 3 de novembro. Saiba mais em https://45.mostra.org