A BUSCA DA HISTÓRIA PELA GEOGRAFIA DE “DROMEDÁRIO NO ASFALTO”.

Por Celso Sabadin.

Dizem que podemos mudar nossa Geografia. Mas que não podemos mudar nossa História. Lembrei desta frase ao assistir “Dromedário no Asfalto”, longa de estreia do gaúcho Gilson Vargas que enfoca justamente este tema. O protagonista Pedro (Marcos Contreras) transita durante o filme por várias geografias, numa procura solitária e silenciosa em busca de um pedaço de sua história.

Utilizando a formatação típica do road-movie, Vargas leva o espectador a uma jornada pelo extremo sul do país, percorrendo Porto Alegre, Cidreira, Pinhal, Mostardas, Farol da Solidão, São José do Norte, Rio Grande, Chuí (no Brasil), e depois Punta del Diablo, La Coronilla, Aguas Dulces, Rocha, Maldonado, Piriapolis, Montevidéu e Carrasco, no Uruguai. Pelo caminho, cruza os mais diversos personagens, trava relacionamentos fugazes, confronta-se consigo mesmo.

Apoiado pela marcante fotografia de Bruno Polidoro, “Dromedário no Asfalto” brinda o público com belas imagens que apoiam as reflexões de Pedro, em momentos em que o filme não se furta em sucumbir à grande questão que o cinema brasileiro recente parece não conseguir resolver: o excesso de narrações em off.

O estilo despojado e até minimalista da obra nos leva a crer tratar-se de uma produção simples. Engano: a equipe transitou por quase 20 cidades, durante  20 meses, o que totalizou seis viagens ao Uruguai (entre pesquisa, pré-produção e filmagens) e mais de 10 mil quilômetros de idas e vindas. “Dromedário no Asfalto” venceu na categoria Melhor Fotografia em Longa Metragem no 6º Festival de Cinema de Fronteira/Bagé (RS).