“A CAÇA” ENFOCA A IGNORÂNCIA VIOLENTA DAS VERDADES PRÉ-CONCEBIDAS.

Assistindo “A Caça”, novo filme de Thomas Vinterberg, foi inevitável lembrar do caso da Escola Base, em São Paulo. Para quem não se lembra, a Escola Base foi acusada de abrigar casos de abuso sexual. Sua inocência foi posteriormente comprovada, mas quando tudo finalmente se esclareceu, tanto a escola como seus proprietários já haviam sido irremediavelmente destruídos pelo julgamento feroz da mídia e da sociedade.

“A Caça” não se passa em São Paulo, mas numa simpática cidadezinha no interior da Dinamarca onde todos se conhecem. É neste cenário de total amabilidade que Lucas (Mads Mikkelsen, melhor ator em Cannes por este filme), professor da pré-escola, é acusado de abusar sexualmente de uma garotinha. Mesmo o caso sendo totalmente infundado, o mundo desaba sobre Lucas.
Novamente, assim como em “Festa de Família”, Vinterberg analisa a hipocrisia de uma sociedade que se esconde, sob pressão, debaixo de uma capa de aparente civilidade. Ao menor sinal de qualquer desequilíbrio, ainda que suposto, a pressão explode, o julgamento irracional vem à tona, os cachorros são soltos. E, o mal dos nossos tempos: todo mundo só ouve o que quer ouvir. Só escuta o que lhe interessa, como se a cidade inteira virasse um Facebook.

Felizmente Vinterberg (assim como todos os outros) abandonou aquela estratégia de marketing chamada “Dogma”, e agora podemos ver seus filmes sem sentir o enjoo da câmera balançado como se estivesse num tsunami. Em “A Caça”, ele assume um estilo mais clássico, dentro de uma narrativa totalmente linear, preocupando-se mais em contar bem a sua história que em embrulhar o estômago da plateia. Quem ganha com isso é a força de uma trama com vigor e de um roteiro bem amarrado (por sinal, premiado em sua categoria no European Film Awards).